Jovem com paralisia cerebral é aprovado na Faculdade de Tecnologia de São Paulo

Com a ajuda de um mouse "diferentão", o jovem também passou na Unicamp

Anna Júlia Steckelberg
Por Anna Júlia Steckelberg
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O ano começou muito bem para o jovem João Lucas de Carvalho. Aos 19 anos, ele conquistou o 1º lugar no vestibular de um curso da Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo) e uma vaga na concorrida Unicamp (Universidade de Campinas). E isso, segundo ele, foi possível graças à ajuda de um mouse “diferentão”, que deu autonomia para usar o computador. 

Pois bem, João Lucas tem paralisia cerebral e contou ao UOL como a tecnologia o auxiliou nos estudos. O curso escolhido por ele tem tudo a ver com inovação: análise e desenvolvimento de sistemas. E a faculdade eleita foi a Fatec, por achar que o curso tinha mais sua cara. 

“Como eu tenho paralisia cerebral, tenho a coordenação motora comprometida e faço uso de um mouse adaptado. Com ele, eu consigo usar o computador e fazer praticamente tudo”, contou o jovem ao veículo. 

Antes do dispositivo, João precisava da ajuda dos professores e da mãe, em casa, para estudar. Até que teve contato com o mouse por intermédio de um professor de informática da Casa da Criança Paralítica de Campinas, onde ele realiza atividades de fisioterapia e fonoaudiologia desde pequeno. 

Wilma Neves, mãe de João, conta que o filho entrou na instituição com 10 meses de idade, assim que descobriu o diagnóstico. De lá para cá, ele teve muita evolução. Inclusive, ela lembra que a aprovação foi muito celebrada e que o mouse é um aliado por dar autonomia que ele precisa.

“Foi uma felicidade. Ele queria muito passar. Ele é muito esforçado e sempre gostou de estudar”, afirmou. 

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Para a gente entender, o mouse adaptado tem setas direcionais para todos os lados e botões de utilização simples, como cursor que aponta para direita e esquerda. Junto a ele existe um teclado virtual que pode ser navegado com ajuda do dispositivo, explica o pedagogo Rodrigo Juliano ao UOL, que trabalha na Casa da Criança.

teclado

“A gente tem um projeto de informática profissionalizante. Ele [João] se adaptou muito bem ao recurso, que custou cerca de R$ 1 mil”, acrescentou. O primeiro contato de João com a tecnologia ocorreu quando ele tinha cerca de dez anos. Antes do mouse, sua mãe o ajudava com a escrita. Na escola tinha uma pedagoga que sentava ao lado de João durante as aulas e escrevia o que ele falava.

Vendo o desempenho do filho com o mouse, Wilma fez questão de comprar um para que ele pudesse usar em casa. “A gente tem que olhar a pessoa e investir naquilo que ela tem de melhor. João foi o que mais se beneficiou do mouse especial. Foi o que mais entendeu”, acrescentou Tais Teixeira.

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Por causa da pandemia de covid-19, João também foi afetado pelo fechamento das universidades. Desde o início das aulas ele está com o ensino remoto. Segundo Wilma, o filho tem se saído bem nas aulas remotas. 

Ele assiste ao conteúdo online, tem acesso aos materiais pedagógicos e mantém uma rotina de estudos normal, respeitando os horários escolares e de descanso. O novo universitário diz que não vê a hora do fim da pandemia para poder frequentar a universidade presencialmente.

“Conversamos com o coordenador do curso e nos foi passado que, quando voltar presencial, a faculdade resolverá a minha locomoção. Aqui em Campinas tem um transporte adaptado do estado que leva os alunos com deficiência para escola”, explicou o jovem. Quando acabar a faculdade, o universitário pretende se especializar na área de segurança, ser tipo ser um hacker ético. “Mas também adoro games. Preferi a Fatec por causa disso. São muitas possibilidades pela frente. Comecei agora”, brincou ele.

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