Cia de Teatro Nu Escuro estreia o espetáculo “Barbas”

Apresentação da websérie será dividida em quatro episódios no canal do Youtube da companhia

Lígia Saba Fernandes
Por Lígia Saba Fernandes
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Foto: Layza Vasconcelos / divulgação

O 16º espetáculo da cia Nu Escuro, “Barbas”, terá sua estreia no dia 3 de julho, às 20h no canal do YouTube da companhia. Produzido no formato de websérie, serão quatro episódios que contarão a história de Marabel, uma menina de 11 anos que tinha como costume arrancar os pelos que apareciam no queixo de sua mãe e colocá-los em uma pequena caixinha, enquanto ouvia as inúmeras histórias contadas por ela. Dirigido por Izabela Nascente e produzido ao longo do último ano, o espetáculo aborda a aceitação da morte e a depressão, e é a última ação do projeto homônimo, que conta com fomento do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás. 

Os outros três episódios serão exibidos nos dias 7, 10 e 14 de julho. Além disso, a companhia ainda oferece uma agenda de atividades para compartilhar com o público o processo de produção deste trabalho. Também está disponível no site da companhia uma exposição com fotos que retratam a execução e a produção do espetáculo em questão. 

No dia 30 de junho será lançado um documentário que registrou todas as etapas do processo de produção de “Barbas”, às 20h, no canal do YouTube da Cia. Nos dias 5, 12 e 17 de julho também às 20 horas, a Nu Escuro ainda vai proporcionar lives no Instagram com integrantes da companhia e convidados que vão refletir sobre os temas abordados pelo espetáculo.

O espetáculo

Marionetes

Foto: Layza Vasconcelos / divulgação

Em cena, Izabela Nascente, Adriana Brito e Lázaro Tuim contam a rotina de Marabel, uma menina em plena fase de descobertas sobre a vida, seus medos, prazeres e vergonhas. Um dia, porém, essa rotina cotidiana é abruptamente interrompida pela morte de sua irmã.  Marabel vê sua mãe adoecer e quando menos espera ela também se percebe entrando em um profundo estado de tristeza, de desânimo e de melancolia. Abatida, então, pela depressão, a menina, em busca de refúgio, se transporta para um lugar muito diferente, algo que poderia ser entendido como uma outra dimensão. Um local que passa a ser chamado de Freak, ou, em português, aberrações, onde tudo lhe parecia mais bonito e interessante.

O novo espetáculo da companhia goiana, que já acumula 25 anos de estrada, surgiu a partir de três pilares: de uma pesquisa de oito anos e histórias de vida de Izabela Nascente; da marca e identidade consolidadas da Nu Escuro; e da reinvenção da companhia, que adaptou seu fazer artístico durante a pandemia.

Por trás de tudo que é produzido pela companhia, existe sempre um trabalho de pesquisa de fôlego. O de “Barbas” encontra suas raízes na dissertação em Performances Culturais da UFG de Izabela, intitulado “O freak Show e Julia Pastrana”. Nele, a pesquisadora faz uma investigação detalhada sobre Julia Pastrana, uma artista do século XIX que trabalhava em Freak Shows, uma manifestação popular tipicamente grotesca que chocou e divertiu milhões de pessoas durante quase dois séculos. Daí nasceu o roteiro de “Barbas”.

Enquanto Izabela pesquisava, também vivia experiências de perdas e dores que a conduziram a diálogos entre o que sua personagem vivia e o que ela testemunhava em sua vida real. Tudo isso, nas palavras da diretora, foi um momento de amadurecimento e descoberta do mundo. Izabela percebeu ainda que o que ela vivia, e também encontrava na vida de Pastrana, não era exclusividade delas, o trabalho de pesquisa da diretora se encontra moldado a partir de suas próprias histórias familiares, as de Julia Pastrana e também a de várias outras mulheres, que tiveram que encontrar formas de desvendar o mundo em meio a violências, dores, impedimentos e limitações.

A diretora ainda pôde encontrar universalidade em sua história, a partir de um trabalho coletivo de dramaturgia feminina, estabelecido com mulheres como Rô Cerqueira, artista das visualidades, cineasta e roteirista; Adriana Cruz, atriz e dramaturga, integrante do grupo In Bust Teatro e Milena Jezenka, empresária, confeiteira e bruxa. “Foi um encontro lindo e elas contribuíram muito. Trouxeram pluralidade e universalidade ao roteiro. Esta história é uma história do cotidiano das mulheres”, compartilhou Izabela. 

Marca da Nu

“Barbas” tem em seu DNA elementos trabalhados há muitos anos pela Nu Escuro: a linguagem do teatro do grotesco, da animação de bonecos, do riso que questiona a tragédia, da comicidade para lidar com temas sérios e da pesquisa exaustiva que fundamenta tudo em cena. A linguagem do grotesco é conhecida do público em outros espetáculos da Cia como Pitoresca, O Alienista, Carro Caído e, principalmente, O cabra que matou as cabras. Desta vez, a companhia se empenha para trazer outros aspectos desta mesma estética. “Trabalhamos algo mais sombrio, com ligação no Id, ou seja, no inconsciente, e outros elementos que se apresentam a partir do ponto de vista de outro estudioso desta linguagem, Wolfgang Kayser, que a relaciona com o estranho, o não-familiar e o inconsciente”, antecipou a diretora.

Arte e pandemia

Este espetáculo foi montado integralmente dentro do contexto pandêmico, o que significou uma forma completamente nova de trabalho para a Nu Escuro. A companhia também criou esta obra considerando que dificilmente seria um espetáculo estreado como manda a tradição: no teatro, plateia cheia, com muita interação. A pandemia exigiu que pensassem considerando que, um dia, a obra seria performada como todos os outros espetáculos, mas que, inicialmente, teria sua estreia em formato virtual. Nesse contexto, o formato de websérie foi a saída encontrada; 

Serão quatro episódios que, somados, têm a duração de 1 hora e 10 minutos. Nesse novo formato de exibição de um trabalho teatral, o grupo considerou que seria preciso uma boa produção audiovisual e que seria mais interessante trabalhar com episódios mais curtos, que normalmente contam com melhor adesão da audiência, quando se trata de uma apreciação através da tela de um computador, smart tv ou smartphone.

 

A pandemia também mudou radicalmente a forma de se fazer uma montagem teatral, que geralmente envolve intensos trabalhos presenciais e muitos encontros. Neste novo cenário, o trabalho foi mais setorizado e era Izabela quem circulava por todos os setores. “Ensaiar remotamente é muito ruim. E vivi momentos muito solitários, como, por exemplo, no trabalho de construir as bonecas ”, compartilhou. A diretora comenta que a equipe de bonequeiros, formada por Rita Alves, Francisco Guilherme, Marcos Lotufo e a própria diretora, tinham o costume de encontrar para construir juntos os bonecos. Dessa vez, todos os detalhes foram atravessados pelas plataformas digitais, com todos trabalhando de casa.

 

Segundo os integrantes do grupo, ainda houve mais novidades trazidas pelo formato virtual, como a possibilidade de trabalharem com profissionais de diferentes regiões do país. Neste sentido, contribuíram com a dramaturgia Adriana Cruz, do Pará, e Rô Cerqueira, do Rio de Janeiro. De Salvador (BA), Jarbas Bittencourt fez a trilha sonora; a partir de Belo Horizonte (MG), Aurora Majnoni e Liz Schickte prestaram assessoria para a manipulação dos bonecos, de Pirenópolis (GO), Marcos Lotufo fez o cenário e de Minas Gerais, Aluísio Cavalcante e sua equipe produzem conteúdos para as redes sociais.

 

O espetáculo ainda traz antigas parcerias goianas, como a de Marci Dornelas e da Balaio Produções; Junior Oliveira, na iluminação; Fora da Lei, responsável pelo documentário; Layza Vasconcelos, como fotógrafa; Cláudio Livas e Euler Teodósio fizeram os adereços de cena; além da figurinista Naya Violeta, que assina, pela primeira vez, o figurino da companhia. Segundo a trupe, estes foram ganhos que surpreenderam, criando e fortalecendo novas e velhas redes de trabalho e de afeto.

 

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