Vítima do estupro coletivo no Rio presta depoimento e homens são presos

"Não dói o útero e sim a alma", desabafa adolescente vítima de estupro coletivo

Marcelo Albuquerque
Por Marcelo Albuquerque
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O estupro coletivo da garota de 16 anos em uma comunidade da Zona Oeste do Rio de Janeiro chocou o Brasil e está provocando uma onda de protestos nas redes sociais contra a chamada “cultura do estupro”. Com hastags com #ACulpaNuncaÉDaMulher #FimdaViolênciaContraAsMulheres #EstuproNuncaMais #EmpoderamentoDasMulheres #EstuproNaoÉCulpaDaVitima o assunto é um dos mais comentados na web em todo o país.

A mobilização começou após a divulgação de um vídeo em que uma adolescente aparece nua, dopada e com marcas de violência. A gravação se tornou viral na Internet nesta quarta-feira, 25 de maio, acompanhado de comentários que relatavam que ela foi vítima de um estupro coletivo – muitos deles de verve machista, o que causou indignação na maioria dos internautas.

O crime

A adolescente de 16 anos foi estuprada no sábado (21). Em depoimento à polícia, ela disse que foi até a casa de um rapaz com quem se relacionava há três anos. Ela se lembra de estar a sós na casa dele e só se lembra que acordou no domingo, em uma outra casa, na mesma comunidade, com 33 homens armados com fuzis e pistolas. Ela destacou que estava dopada e nua.

A garota retornou para casa na terça-feira (24). “Ela chegou descalça, descabelada, com aspecto de que tinha se drogado muito e com uma roupa masculina toda rasgada. Provavelmente eles deixaram ela nua e ela vestiu aquilo pra vir em casa”, contou a parente. A família teria questionado a menina o que havia acontecido, mas ela não revelou nada.

Um grupo de homens a teria violentado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e depois alguns deles teriam filmado o crime com seus celulares para compartilhá-lo nas redes sociais. Uma das imagens compartilhadas mostra um homem com a língua para fora posando diante da pelve ensanguentada da menina.

Criminosos divulgaram vídeo do estupro em rede social.

Criminosos divulgaram vídeo do estupro em rede social. REPRODUÇÃO

A menina foi levada na manhã desta quinta-feira para o setor de ginecologia do Hospital Maternidade Maria Amélia, que é anexo ao Souza Aguiar, para fazer exames. A polícia já identificou quatro dos criminosos, que terão as prisões preventivas pedidas. A vítima passou a madrugada no Instituto Médico Legal e já foi ouvida na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), que investiga o caso. O Ministério Público informou que está acompanhando o caso e que já recebeu 800 denúncias pela ouvidoria. Ao sair do hospital, a menor de idade, ainda muito abalada, disse que foi dormir na casa do namorado, na última sexta-feira, e só acordou no domingo.

— Quando acordei tinha 33 caras em cima de mim— disse a menina, que tentou diversas vezes fugir do hospital — Só quero ir para casa.

A adolescente também fez um desabafo nas redes sociais. Diante de tantas mensagens de apoio e solidariedade, a jovem acrescentou a mensagem: “Todas podemos um dia passa e por isso .. Não, não doi o útero e sim a alma por existirem pessoas cruéis sendo impunes !! Obrigada ao apoio”, disse a garota.

Jovem vítima de estupro no Rio deixou mensagem em rede social (Foto: Reprodução/Facebook)

Post da vítima feito no Facebook.

Aos choros, o pai da menina, que pediu para não ser identificado, disse que o estupro ocorreu na última sexta-feira, no Morro São José Operário, em Praça Seca.

— Ela foi num baile, prenderam ela lá e fizeram essa covardia. Bagunçaram minha filha. Quase mataram ela. Estava gemendo de dor. Ficou tão traumatizada que só conseguia chorar.

A avó da vítima, em entrevista à rádio CBN, disse que ela teria sofrido um apagão durante os abusos.

— O vídeo é chocante, eu assisti. Ela está completamente desligada. Ela tem umas coleguinhas lá, mas nessa hora nenhuma apareceu.

Eles, inclusive, postaram diversos comentários a respeito, todos eles irônicos. As imagens do estupro coletivo causaram revolta nos internautas. A hashtag #Estupro chegou a entrar nos trending topics do país.

O homem que postou na internet o vídeo teve a conta excluída do Twitter. Nas imagens, a menina, que aparentemente está dopada, tem suas partes íntimas exibidas. O rosto de um dos agressores também aparece.

Prisão

A Polícia Civil já identificou quatro suspeitos de participarem do estupro coletivo contra uma adolescente de 16 anos, na Zona Oeste. Os investigadores já pediram a prisão à Justiça.

Segundo o “Jornal Nacional”, Marcelo Miranda da Cruz Correa, de 18 anos, e Michel Brazil da Silva, de 20 anos, são os suspeitos de divulgar as imagens da vítima na internet. Já Lucas Perdomo Duarte Santos, de 20 anos, é o rapaz com quem a adolescente tinha um relacionamento e teria participação direta no crime.
O outro homem que teria participado do estupro é Raphael Assis Duarte Belo, de 41 anos, que aparece nas imagens ao lado da garota. Raphael trabalhou como apoio a operador de câmera nos estúdios Globo, de onde foi desligado em agosto do ano passado.

Lucas Perdomo Duarte Santos, de 20 anos, e Raphael Assis Duarte Belo, de 41 – Divulgação