Tecnologia e robôs: Primeira escola de ensino chinês se instala no Brasil

Com referência internacional, a escola será no modelo da educação básica chinesa, desde mandarim a 10 horas de aula

Anna Júlia Steckelberg
Por Anna Júlia Steckelberg
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Como se não bastasse ser um dos maiores produtores mundiais de vacinas, principal parceiro comercial do Brasil e líder em Ciências e Educação, a China chegou à rede educacional brasileira. A Escola Chinesa Internacional foi aberta no Rio de Janeiro.

Criada com o financiamento de empresários chineses que vivem no país e com apoio do governo chinês. O objetivo, segundo o site da escola recém-inaugurada, é proporcionar ensino de referência internacional. O modelo será o da educação básica chinesa, em ambiente trilíngue: mandarim, português e inglês.

A escola não poupou gastos, só em tecnologia já foram investidos R $3 milhões. Tem desde tablets e quadros-negros digitais a um robô que conversa em mandarim com os alunos, corrigindo sua pronúncia. E eles não param por aí, o plano é abrir, ainda este ano, uma filial em São Paulo, que é onde mora uma comunidade chinesa maior.

Cerca de 300 mil chineses vivem em nosso país, sendo a China nosso maior parceiro comercial há mais de 10 anos. Esses chineses sentiam falta de uma escola que garantisse a educação integral de seus filhos aqui, com ensino de mandarim e acesso a universidades chinesas.

Além do mandarim, a escola mantém o currículo chinês, que é muito mais avançado em Matemática do que o brasileiro, por exemplo. Também preza os ensinamentos do filósofo Confúcio (551 A.C. 479 A.C.), entre outros aspectos da cultura e tradição chinesas. Os alunos aprendem ópera e até culinária da China. A ginástica laboral, uma tradição nas escolas e empresas chinesas, também está presente.

“Muitos de nós, chineses, viemos para o Brasil já adultos; crescemos e estudamos na China”, afirma o empresário Zheng Xiamao, um dos investidores da escola. “Mas nossos filhos nasceram aqui, e percebemos que eles perderam um pouco da identidade, das raízes chinesas. Às vezes não tínhamos nem tempo de ensinar o mandarim.”

Chineses que vivem no Brasil contam que precisaram mandar os filhos de volta à China, ainda pequenos, para garantir que aprendessem a língua e tivessem garantido o acesso às universidades chinesas. Com o currículo brasileiro, é praticamente impossível ingressar no ensino superior no país asiático.

“No Brasil e em outros lugares do mundo existem escolas alemãs, britânicas, americanas. Por que não chinesa?”, questionou Xiamao. “Elaboramos então esse projeto de termos uma escola 100% chinesa.”

Mas, veja bem, a cultura brasileira também está presente. Os alunos têm aula de jongo, por exemplo, onde aprendem a dança brasileira de origem africana, típica de comunidades negras. Em uma aula acompanhada pelo Estadão, crianças chinesas tentavam aprender a dançar e a tocar os tambores típicos do ritmo ao lado de brasileirinhos levemente mais cadenciados.

As aulas de História e Geografia, claro, também seguem o currículo nacional, uma exigência do Ministério da Educação.

A China, atualmente, lidera o ranking mundial de educação, o Pisa, nas três categorias: Leitura, Ciência e Matemática. Está à frente de todos os países escandinavos, tradicionalmente muito bem colocados. O aluno formado nesta escola terá acesso não só a universidades da China como também a instituições dos Estados Unidos e da Europa.

Dos cerca de 50 alunos já matriculados, 60% são brasileiros, 30% são chineses e 10%, de outras nacionalidades, há alunos americanos e italianos, por exemplo. “A maioria dos nossos alunos é brasileira”, atesta a diretora da escola, Yuan Aiping, que vive há 23 anos no Brasil.

Entre os brasileiros que já matricularam seus filhos na escola estão os deputados federais Clarissa Garotinho e Pedro Paulo Carvalho, que atualmente é secretário de Fazenda e Planejamento da prefeitura do Rio.

A primeira dificuldade, claro, é a língua. Mas, mesmo sendo um sistema trilíngue (e o mandarim é escrito em ideogramas), a experiência da escola mostra que as crianças absorvem conhecimento muito rápido.

Entre os menores, na pré-escola, não há propriamente aula de idioma. Mas eles são assistidos por três professoras nativas: uma chinesa, uma brasileira e uma americana. Cada uma delas só se dirige às crianças em sua língua natal. Funciona: as crianças passam de uma língua para outra com grande naturalidade.

A Matemática também é um grande obstáculo. Segundo Yang, a Matemática ensinada no 2.º ano de educação básica na China equivale ao que é ensinado no 5.º ou no 6.º ano em outros países.

Os alunos passam de oito a dez horas na escola, o que pode parecer um pouco excessivo para alguns brasileiros. A mensalidade também varia de R $4 mil a R $8 mil dependendo da idade da criança e do número de horas que ela fica no colégio.