Musical sobre Chico Buarque é interrompido ao vivo após ator xingar Lula e Dilma; veja o vídeo e ouça os áudios

Durante a apresentação do espetáculo “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos”, o ator e diretor Claudio Botelho chamou a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula de “ladrões”, o que provocou a ira de parte da plateia, que entoou gritos de “não vai ter golpe”.

O episódio ocorreu na noite de sábado (19), em Belo Horizonte e fez com que a peça terminasse antes do horário programado.

Em resposta à reação da platéia, Botelho retrucou: “Vamos terminar o espetáculo e ver se não vai ter golpe”. Resultado: mais vaias.

A direção da peça decidiu então suspender a sessão na hora e cancelou a apresentação proramada para este domingo.

Em nota, o Sesc Palladium afirma que não concorda com a posição de Claudio Botelho e que respeita a opinião do público.

Abaixo, a íntegra do comunicado do Sesc Palladium, de Belo Horizonte:

“Em decorrência da manifestação espontânea do diretor e ator do espetáculo “Todos os Musicais de Chico Buarque em  90 Minutos” e em função dos desdobramentos ocasionados por tal atitude, a apresentação de ontem (19/03) foi interrompida e a de hoje (20/03) cancelada.

O Sesc em Minas não corrobora com as manifestações políticas de cunho pessoal e respeita as diversas opiniões de seu público, sempre priorizando a segurança de todos.

Lamentamos o ocorrido e os transtornos gerados”.

Veja o vídeo do momento em que a plateia se voltou contra o ator:

Conversa nos bastidores vaza na internet

Um áudio divulgado na internet mostra Botelho conversando com a atriz Soraya Ravenle, sua colega de elenco. A conversa, tensa, segue nos bastidores da peça após a sua interrupção, ainda no Sesc Palladium.

Durante a discussão, Soraya tenta acalmar Botelho e dizer que ele não poderia ter provocado a plateia naquele tom em uma semana de tensão política no país. É nesse momento que o diretor solta um comentário racista: “Um ator não pode ser peitado por um negro… Um ator que está em cena é um rei! Não pode ser peitado. Não pode ser peitado por um negro, por um filho da p*** que está na plateia. Não pode. Não pode ser peitado. Eu estava fazendo uma ficção.”

Confira aqui o áudio vazado nos bastidores do teatro.

 

Claudio Botelho se defende após polêmica

O ator e diretor Claudio Botelho se defendeu da polêmica que causou. Segundo o mineiro, ele usou uma fala de seu personagem, diretor de um grupo de teatro mambembe, para improvisar em cima da situação política do país. Em entrevista ao jornal GLOBO, Botelho disse ter se sentido “censurado”.

“Faço esse espetáculo há dois anos, tem um momento em que meu personagem chega numa cidade imaginária e vê que ninguém vai ao teatro porque é o último capítulo da novela das oito. Nessa hora, sempre faço um “caquinho” com o que está acontecendo no Brasil. Já falei sobre o (presidente da câmara Eduardo) Cunha, por exemplo, e sempre fui aplaudido, sempre riram, sempre entenderam como piada. Ontem eu disse: “Será que o pessoal ficou em casa para ouvir que algum ex-presidente foi preso? Ou ficaram para ver se uma presidente recebeu o impeachment?”, explicou Botelho.

O ator continua: “As vaias foram crescendo, virando uma comoção. Começaram a berrar “não vai ter golpe”, mas demorei uns minutos pra entender. No primeiro momento, eu caí na gargalhada, demorei a entender que não era uma brincadeira. Afinal, eu não falei de golpe, não falei de nada.
O público começou a descer em direção ao palco, com punhos em riste, me chamando de coxinha, expressão que sempre me faz rir, além de direitista, fascista. Começou a ficar violento. Quando vi que o pessoal não ia parar e entendi que eles não estavam gostando, sugeri que fossem à bilheteria pegar o dinheiro de volta. Mas eles não foram. Daí o restante da plateia começou a gritar para o pessoal que estava reclamando ir embora”.

Botelho contou que não quis ouvir o áudio da discussão que teve com a colega de trabalho Soraya Ravenle nos bastidores do musical. Ele nao sabia que estava sendo gravado, e acionou seus advogados.

“Acho mesmo que o público foi fascista. O que aconteceu foi censura”, concluiu.

Nota de Chico Buarque

Chico Buarque se manifestou por meio de seus assessores, retirando a autorização para Botelho usar suas canções em musicais. Segundo o ator e diretor, a sessão marcada para este domingo, em Belo Horizonte, e também cancelada, seria mesmo a última da turnê.