‘Aleppo é um lugar onde as crianças pararam de chorar’

Um vídeo divulgado recentemente pelo “Channel 4 News” mostra imagens chocantes de um hospital em Aleppo, no norte Síria, após novos ataques que acometeram a cidade depois de ser rompido o cessar-fogo. A retirada de civis das áreas controladas por rebeldes iria acontecer a partir da última quarta-feira (14), segundo o acordo que havia sido anunciado no dia anterior, mas foi adiado. 

Nas imagens publicadas na conta do Twitter do telejornal britânico, é possível ver uma criança, identificada como Aya, sentada em um dos últimos hospitais de Aleppo ainda em pé, com o rosto e corpo cobertos por poeira e sangue.

Desnorteado, o menino não chora ao ser examinado pelos socorristas. Segundo sua mãe, Um Fatima, única adulta sobrevivente dentre as três famílias que viviam no bloco de apartamentos atingidos pela bomba, a família estava dormindo quando o prédio foi atingido. “Aleppo é um lugar onde as crianças pararam de chorar”.

Na gravação, um adolescente aparece carregando o sobrinho de apenas um mês nos braços, filho de seu irmão que também faleceu no incidente. “Deus irá nos vingar contra esse opressor”, afirma o jovem se referindo a Bashar Al-Assad, ditador sírio. Segundo a CNN, forças sírias foram responsáveis por romper o cessar-fogo retomando ataques contra bairros controlados pro rebeldes na cidade. 

De acordo com a ONU, ao menos 2.700 crianças estavam entre os oito mil pessoas que foram autorizadas a evacuar a cidade nos últimos dias. Segundo disse um rebelde sírio ao portal de notícias “al-Arabiya al-Hadath”, um novo cessar-fogo foi acordado para completar a retirada de cidadãos de áreas ao leste de Aleppo. A informação ainda não foi confirmada oficialmente pelo governo. 

Vídeo de criança resgatada em bombardeio na Síria comove a web

O vídeo de um menino de 5 anos sendo resgatado após bombardeio na cidade de Aleppo, no norte da Síria, está correndo a timeline das redes sociais e comovendo pessoas do mundo inteiro. O garotinho Omran Daqneesh aparece sentado sentado em uma ambulância com o rosto coberto de poeira e sangue. 

A casa de Omran, que fica em um bairro controlado por rebeldes opositores ao ditador Bashar al Assad, foi atingida por um bombardeio aéreo na noite de quarta-feira (17). Segundo o jornal americano The New York Times, o médico que atendeu o menino, Osama Abu al-Ezz, disse que ele passa bem e teve apenas ferimentos leves. 

Na sequência das imagens, outras crianças e um idoso são trazidos para a mesma ambulância pelo grupo de resgate. De acordo com o New York Times, se trata dos irmãos de Omran, com idades de 1, 6 e 11 anos. O prédio desabou com o bombardeio.   

 

Garota de 14 anos na Síria se dedica a estudar e educar refugiados na Jordânia

Muitas vezes, no conforto de nossas casas, não percebemos como algumas coisas tão simples e essenciais para nós são encaradas como verdadeiros sonhos, oportunidades quase únicas para quem enfrenta uma realidade muito mais difícil que a nossa. Na Jordânia, uma menina síria de 14 anos se dedica a estudar e também a educar os integrantes do acampamento de refugiados Azraq, no meio do deserto.

Na rotina de Muzon al-Meliha, logo às 10 da manhã ela não tem tempo para pensar nas coisas que perdeu pelo caminho e segue para as suas aulas de inglês e informática. E o fato de viver em uma pequena vila improvisada no árido jordaniano não é motivo para desanimar, não.

Busca por mais direitos e educação para as mulheres chamou a atenção da ONU. (Reprodução)

Busca por mais direitos e educação para as mulheres chamou a atenção da ONU.

A família de Muzon deixou a Síria em 2013 devido aos conflitos civis no país. Atualmente, há um mês, quando tiveram a oportunidade de ir embora do acampamento, a sua tia foi quem a ajudou a convencer todos a deixar a menina ficar no local e continuar os seus estudos.

“Nós deveríamos ter a chance de estudar em qualquer lugar, a qualquer hora”, diz a garota. “Eu não considero o acampamento um obstáculo. Quando eu vim para a Jordânia, achei que não continuaria meus estudos. Mas ir à escola aqui é o que mantém as minhas esperanças.”Muzon e sua colega durante a aula de informática. (Reprodução)

Muzon e sua colega durante a aula de informática. (Reprodução)

A garota conta a respeito das tradições de onde ela vem e como elas afetam negativamente o futuro das mulheres. “Mesmo que algumas meninas queiram estudar, as suas famílias preferem que elas se casem. Aqui, no acampamento, cada vez mais famílias casam as suas filhas. Acham que isso assegura um futuro para elas mais do que a educação.”

“Se você se casa e não tem educação ou conhecimento, você nunca vai conseguir resolver os problemas, ajudar a si mesma ou a seus filhos. Sinceramente, eu coloquei isso [estudar] como o meu objetivo na vida.”

Ela bateu uma bolinha com Malala, paquistanesa que venceu o Nobel da Paz. Literalmente! (Reprodução)

Ela bateu uma bolinha com Malala, paquistanesa que venceu o Nobel da Paz. Literalmente!

A perseverança da menina rendeu até uma alcunha da qual ela gosta muito: “Malala da Síria”, em referência à paquistanesa Malala Yousafzai, vencedora do Nobel da Paz. As duas inclusive se encontraram em Azraq e trocaram figurinhas recentemente.

“Quando as pessoas me chamam de Malala, eu sinto que eu estou realizando um trabalho importante e que as pessoas acreditam nele. Ela me ensinou que, independente dos obstáculos que enfrentamos na vida, podemos passar por eles”, acrescenta. “Malala não ficou em silêncio e levantou a sua voz pelos seus direitos.”'Eu aprendi tudo com meus pais, eles me ensinaram a ter respeito.' (Reprodução)

‘Eu aprendi tudo com meus pais, eles me ensinaram a ter respeito.’ (Reprodução)

Sem perder em momento algum o olhar profundo e determinado, ela fala como se a sua jornada estivesse apenas começando. “Mesmo sabendo que sou jovem, eu sei que posso fazer mais do que estou fazendo aqui no acampamento. Não só aqui, como no mundo todo. Educação é tudo na vida, e tendo educação você entende porque ela é tão importante. Nós temos esperança, nós vamos construir uma Síria muito melhor do que ela era”, encerra.

Para conhecer mais sobre Muzon al-Meliha e como é a sua vida no acampamento Azraq, na Jordânia, veja o vídeo abaixo (em inglês):

Via Yahoo.