Tratamento pioneiro em Goiás recupera visão de crianças cegas

Um tratamento para recuperar a visão de crianças ameaçadas pela cegueira tem chamado a atenção de muitos pais com tristes diagnósticos em Goiás. A Vanessa Bueno é mãe de Rafael, diagnosticado com Amaurose Congênita de Leber (ACL) aos três anos de idade. A doença é degenerativa hereditária rara que leva a disfunção da retina numa idade precoce. “Os olhinhos dele mexiam de um lado para o outro de forma rápida. Não fixava e não acompanhava absolutamente nada. Durante a amamentação, ele nunca olhou para o meu rosto. Isso foi frustrante! Quando eu percebi como tudo seria na vida dele, eu entrei em desespero absoluto”, disse a mãe do pequeno Rafael. 

Através do tratamento ainda pouco conhecido, é que que Rafael conseguiu desenvolver funções da visão. “Ele conheceu cores, nome das formas, objetos e suas funções, significados, até chegar na alfabetização regular. Não foi necessário braile, as letras eram ampliadas”, explica Vanessa. 

fc522327d5d57ed19c754811ceb8fa1b.pngFoto: Vanessa Bueno/arquivo pessoal

A Fisioterapeuta e Reabilitadora Visual, Érika Tanuri, é pioneira no tratamento em Goiás, e tem apresentado resultados excelentes em crianças cegas. “A primeira vez que eu consegui fazer uma criança enxergar, eu vi que aquilo realmente era possível”, falou emocionada.

O tratamento é conhecido como Reabilitação Visual, mas existem duas fases do tratamento. Segundo Érika, existe as etapas da habilitação e da reabilitação. “Nas duas nós usamos a estimulação visual. A diferença é que na habilitação visual, a estimulação acontece de 0 a 8 anos de idade. Após os 8 anos da criança é a fase de reabilitação da visão”, explicou.

3eaa4bb2400c6a9ba3600c3a241a1b1b.jpgFoto: Érika Tanuri/arquivo pessoal

A reabilitadora explica que a primeira fase é onde a visão do ser humano ainda está sendo desenvolvida. E como a visão é o sentido que tem maior responsabilidade sobre o nosso desenvolvimento, a terapeuta trabalha todas as funções que estão prejudicadas em virtude da deficiência visual. O atraso no desenvolvimento motor, do comportamento, na comunicação, até na cognição. Na segunda fase há ganhos menos expressivos de equidade, mas não menos importante, porque é nesse momento que a funcionalidade da visão é estimulada.

Érika Tanuri já levou o tratamento para os maiores centros de reabilitação do país. O Ministério da Saúde também convidou a profissional para ensinar o tratamento no Centro de Reabilitação e Readaptação (CRER) do Nordeste, onde ensinou profissionais a estimular a visão de crianças portadoras de sequelas do Zika Vírus. Ela continua levando ajuda para pessoas que receberam tristes diagnósticos de uma cegueira inevitável. “A reabilitação visual é o ar que eu respiro. Eu acordo pensando nas pessoas que eu preciso ajudar a enxergar. Eu trabalho vendo isso acontecer, e durmo pensando nas pessoas que ainda precisam ver o mundo”, finaliza. 

Vídeo: produção e narração por Marianne Ferreira