Mulheres de Goiás: entenda a importância de Cora Coralina

Cora Coralina foi uma poetisa brasileira de grande destaque na literatura brasileira e goiana. Seu legado representa a síntese entre a poesia e a cultura brasileira. O trabalho de Cora Coralina foi muito importante para a valorização da cultura nacional. Um orgulho goiano!

A poetisa nasceu em 1882, na cidade de Goiás. Seu nome completo era Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, mas ela foi mais conhecida pelo pseudônimo Cora Coralina.

A poesia dela mostrou a força da cultura brasileira e o encantamento do cotidiano. Seus poemas retratam a natureza, a vida e a cultura brasileira. Cora Coralina escreveu muitas obras, como Poesias, Livro de Sonetos, Livro de Poemas e Brasiliana.

Todas essas obras são marcadas por seu estilo único, que se destaca pela simplicidade e beleza poética. Cora Coralina também foi uma grande incentivadora da literatura brasileira e da cultura nacional. Ela também acreditava que a poesia era uma forma de expressar sentimentos e pensamentos.

O legado de Cora ainda é lembrado e admirado. 

Considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras, ela teve seu primeiro livro publicado em junho de 1965 (Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais), quando já tinha quase 76 anos de idade, apesar de escrever seus versos desde a adolescência.

Por incrível que pareça, ela era uma mulher simples, doceira de profissão, e mesmo tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.

Uma curiosidade é que ela cursou apenas até a terceira série do curso primário. E em 1922 foi convidada a participar da Semana de Arte Moderna, mas foi impedida por seu marido. Foi eleita com o “Prêmio Juca Pato” da União Brasileira dos Escritores, como intelectual do ano de 1983.

Em Goiás Velho, ou Cidade de Goiás, tem um museu na casa onde Cora Coralina nasceu e viveu. 

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Foto: Prefeitura da Cidade de Goiás

Além disso, perto da entrada, tem uma estátua homenagenado a poetisa goiana.

 

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Foto de capa: Luis Elias

Os 10 melhores poemas de Cora Coralina

Ana Lins dos Guimarães Peixoto (20 de agosto de 1889 – 10 de abril de 1985) era o nome de batismo da poeta Cora Coralina, uma goiana que começou a publicar os seus trabalhos quando tinha 76 anos. Tendo cursado somente até a terceira série, Ana ou Cora criou versos preciosos.

Suas poesias são baseadas numa escrita do cotidiano, das miudezas, e é caracterizada por uma delicadeza e por uma sabedoria de quem passou pela vida e observou cada detalhe do caminho.

Apesar do início tardio na carreira literária, Cora Coralina é dona de uma produção consistente e tornou-se uma das mais celebradas poetas do país. Seus versos ganharam fãs mundo afora e a lírica goiana, está sendo divulgada.

Listamos os 10 melhores poemas dessa autoria inestimável para a literatura brasileira:

1. Aninha e Suas Pedras

Não te deixes destruir…

Ajuntando novas pedras

e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha

um poema.

E viverás no coração dos jovens

e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.

Vem a estas páginas

e não entraves seu uso

aos que têm sede.

 

2. Conclusões de Aninha

Estavam ali parados. Marido e mulher.

Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça

tímida, humilde, sofrida.

Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho,

e tudo que tinha dentro.

Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar

novo rancho e comprar suas pobrezinhas.

O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula,

entregou sem palavra.

A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,

se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar

E não abriu a bolsa.

Qual dos dois ajudou mais?

 

3. Mulher da Vida

Mulher da Vida,

Minha irmã.

De todos os tempos.

De todos os povos.

De todas as latitudes.

Ela vem do fundo imemorial das idades

e carrega a carga pesada

dos mais torpes sinônimos,

apelidos e ápodos:

Mulher da zona,

Mulher da rua,

Mulher perdida,

Mulher à toa.

Mulher da vida,

Minha irmã.

 

4. Ofertas de Aninha (Aos moços)

Eu sou aquela mulher

a quem o tempo

muito ensinou.

Ensinou a amar a vida.

Não desistir da luta.

Recomeçar na derrota.

Renunciar a palavras e pensamentos negativos.

Acreditar nos valores humanos.

Ser otimista.

Creio numa força imanente

que vai ligando a família humana

numa corrente luminosa

de fraternidade universal.

Creio na solidariedade humana.

Creio na superação dos erros

e angústias do presente.

Acredito nos moços.

Exalto sua confiança,

generosidade e idealismo.

Creio nos milagres da ciência

e na descoberta de uma profilaxia

futura dos erros e violências

do presente.

Aprendi que mais vale lutar

do que recolher dinheiro fácil.

Antes acreditar do que duvidar.

 

5. Becos de Goiás

Becos da minha terra…

Amo tua paisagem triste, ausente e suja.

Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.

Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.

E a réstia de sol que ao meio-dia desce fugidia,

e semeias polmes dourados no teu lixo pobre,

calçando de ouro a sandália velha, jogada no monturo.

 

Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,

Descendo de quintais escusos sem pressa,

e se sumindo depressa na brecha de um velho cano.

Amo a avenca delicada que renasce

Na frincha de teus muros empenados,

e a plantinha desvalida de caule mole

que se defende, viceja e floresce

no agasalho de tua sombra úmida e calada

 

6. Meu Destino

Nas palmas de tuas mãos

leio as linhas da minha vida.

Linhas cruzadas, sinuosas,

interferindo no teu destino.

Não te procurei, não me procurastes –

íamos sozinhos por estradas diferentes.

Indiferentes, cruzamos

Passavas com o fardo da vida…

Corri ao teu encontro.

Sorri. Falamos.

Esse dia foi marcado

com a pedra branca

da cabeça de um peixe.

E, desde então, caminhamos

juntos pela vida…

 

7. Ressalva

Este livro foi escrito

por uma mulher

que no tarde da Vida

recria a poetiza sua própria

Vida.

 

Este livro

foi escrito por uma mulher

que fez a escalada da

Montanha da Vida

removendo pedras

e plantando flores.

 

Este livro:

Versos… Não.

Poesia… Não.

Um modo diferente de contar velhas estórias.

 

8. Todas as Vidas

Vive dentro de mim

uma cabocla velha

de mau-olhado,

acocorada ao pé do borralho,

olhando para o fogo.

Benze quebranto.

Bota feitiço…

Ogum. Orixá.

Macumba, terreiro.

Ogã, pai de santo…

 

Vive dentro de mim

a lavadeira do Rio Vermelho.

Seu cheiro gostoso

d’água e sabão.

Rodilha de pano.

Trouxa de roupa,

pedra de anil.

Sua coroa verde de são-caetano.

 

Vive dentro de mim

a mulher cozinheira.

Pimenta e cebola.

Quitute benfeito.

Panela de barro.

Taipa de lenha.

Cozinha antiga

toda pretinha.

Bem cacheada de picumã.

Pedra pontuda.

Cumbuco de coco.

Pisando alho-sal.

 

Vive dentro de mim

a mulher do povo.

Bem proletária.

Bem linguaruda,

desabusada, sem preconceitos,

de casca-grossa,

de chinelinha,

e filharada.

 

Vive dentro de mim

a mulher roceira.

– Enxerto da terra,

meio casmurra.

Trabalhadeira.

Madrugadeira.

Analfabeta.

De pé no chão.

Bem parideira.

Bem criadeira.

Seus doze filhos

Seus vinte netos.

 

Vive dentro de mim

a mulher da vida.

Minha irmãzinha…

Fingindo alegre seu triste fado.

 

Todas as vidas dentro de mim:

Na minha vida –

a vida mera das obscuras.

 

9. Cora Coralina, Quem É Você?

Sou mulher como outra qualquer.

Venho do século passado

e trago comigo todas as idades.

 

Nasci numa rebaixa de serra

entre serras e morros.

“Longe de todos os lugares”.

Numa cidade de onde levaram

o ouro e deixaram as pedras.

 

Junto a estas decorreram

a minha infância e adolescência.

 

Aos meus anseios respondiam

as escarpas agrestes.

E eu fechada dentroda imensa serrania

que se azulava na distância

longínqua.

 

Numa ânsia de vida eu abria

o vôo nas asas impossíveis

do sonho.

 

Venho do século passado.

Pertenço a uma geração

ponte, entre a libertação

dos escravos e o trabalhador livre.

Entre a monarquia

caída e a república

que se instalava.

 

Todo o ranço do passado era

presente.

A brutalidade, a incompreensão,

a ignorância, o carrancismo.

 

10. Assim Eu Vejo a Vida

A vida tem duas faces:

Positiva e negativa

O passado foi duro

mas deixou o seu legado

Saber viver é a grande sabedoria

Que eu possa dignificar

Minha condição de mulher,

Aceitar suas limitações

E me fazer pedra de segurança

dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes

Aceitei contradições

lutas e pedras

como lições de vida

e delas me sirvo

Aprendi a viver.

 

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Foto de capa: Reprodução/Luis Elias

7 poetas goianos que todo mundo precisa conhecer

O Dia do Poeta é celebrado anualmente em 20 de outubro. Esta data celebra o profissional, que pode (e deve) ser reconhecido como um artista escritor, que usa de sua criatividade, imaginação e sensibilidade para escrever, em versos, as poesias que faz. O principal propósito da data é incentivar a leitura, escrita e publicação de obras poéticas nacionais.

Há séculos as pessoas se emocionam, riem e choram com essas belas produção artísticas, consideradas como uma das Sete Artes Tradicionais. Aqui em Goiás tem muitos poetas bons e para homenageá-los, hoje separamos 7 nomes importantes na literatura goiana. Confira:

 

Cora Coralina

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Provavelmente é uma das autoras mais reconhecidas na literatura brasileira. Tendo concluído apenas a 4ª série do ensino fundamental, Cora encanta a todos que entram em contato com seus livros, poemas, poesias e artigos que destilam a alegria de viver. Seu primeiro livro foi lançado em junho de 1965, quando já tinha quase 76 anos de idade.

 

José Godoy Garcia

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Natural de Jataí, José morou no Rio de Janeiro na década de 30 e ao retornar para Goiás publicou o “Rio do Sono”, que fala do fazer poético e do que inspira um escritor. Além disso, o autor teve diversas obras publicadas como: Araguaia Mansidão (1972); Aqui é a Terra (1980); Entre Hinos e Bandeiras (1985); Os morcegos (1987); Os dinossauros dos sete mares (1988) dentre outros.

 

Bernardo Élis

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Também nascido em Corumbá de Goiás, Élis foi o primeiro e único membro goiano da Academia Brasileira de Letras. Foi poeta, contista e romancista, além de advogado e professor.

 

Gilberto Mendonça Teles

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O escritor faz parte do seleto grupo de autores de Goiás que ultrapassaram as fronteiras do estado e ganharam visibilidade na literatura brasileira. Nascido em Bela Vista de Goiás, é conhecido tanto pela sua produção poética como pelos seus importantes estudos sobre o modernismo e a vanguarda na poesia.

 

Lêda Selma

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Membro da cadeira 14 da Academia Goiana de Letras, Lêda é poetisa, contista, cronista, e integra várias antologias nacionais e internacionais. É verbete em diversos trabalhos críticos goianos, e, também, em obras de alcance nacional como “Dicionário de Mulheres”, de Hilda Agnes Hübner Flores, e “Enciclopédia de Literatura Brasileira”, Afrânio Coutinho. Publicou 14 livros (7 de poemas e 7 em prosa).

 

Yêda Schmaltz

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Recém-nascida no estado de Pernambuco 1941, foi levada para Ipameri (GO), terra do seu pai. É neta do poeta Demóstenes Cristino um dos iniciadores do modernismo em Goiás. Bacharel em Letras Vernáculas e em Direito, foi professora da Universidade Federal de Goiás, Instituto de Artes. Tem mais de 20 obras publicadas, recebeu inúmeros prêmios e distinções, cabendo destacar o da Associação Paulista de Críticos de Arte, reconhendo sua obra “Baco e Anas brasileiras” como o melhor livro de poesia, em 1985. Yêda foi voz feminina da poesia de Goiás.

 

Leodegária De Jesus

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Leodegária Brazília de Jesus nasceu em Caldas Novas em 1889. Ela foi uma das primeiras mulheres a lançar um livro de poemas em Goiás. Documentos apontam 1906 como ano da publicação da sua primeira obra, “Coroas de Lírios”, que ela teria escrito aos quinze anos e publicado aos dezessete. O fato de ter sido uma escritora negra marcou as dificuldades que a escritora enfrentava naquela época. Tanto que, durante muito tempo, sua obra caiu no ostracismo. Uma revisão da literatura aponta que os poemas de Leodegária não foram bem recebidos quando publicados. Sua literatura é autobiográfica, carregada de romantismo e forma parnasiana. Na época em que Leodegária escreveu seus livros, seu estilo literário modernista já despontava em outras partes do Brasil, principalmente no eixo Rio-São Paulo. Isso mostra o tardio contato da literatura goiana com o movimento.

A escritora Darcy Denófrio descreve Leodegária de Jesus como o primeiro punho lírico feminino em Goiás. “Mulher admirável, foi ela pioneira em mais de um sentido: estudou até Latim, numa época em que as mulheres brasileiras morriam analfabetas; foi chefe de família, quando a mulher não cumpria esta função; foi escritora, quando a mulher não escrevia; escreveu livro de poemas entre os 14 e os 15 anos, época em que a mulher aprendia tão somente os ofícios domésticos em prisão domiciliar; publicou-o mal entrando em seus 17 anos, quando os poetas, seus pares, tinham idade para ser seus pais ou até mesmo seus avós; e numa década pródiga em livros, rica para a Literatura Goiana, quando foi dela a única voz que salvou a mulher do total silêncio nas Letras, perdurando o seu solo por quase meio século.”

 

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Fotos reproduzidas da Internet (Wikipédia)

 

 

Nova espécie de anfíbio é batizada com nome de Cora Coralina ao ser encontrada em Goiás

O anfíbio minúsculo de tamanho entre 1,25 e 1,53 centímetros foi encontrado numa poça d’água em meio ao milharal, após uma chuva em Palmeiras de Goiás, a cerca de 71km de Goiânia. Os pesquisadores Felipe Silva de Andrade, primeiro autor do trabalho, e Isabelle Aquemi Haga descobriram a espécie no ano passado, mas só revelaram agora.

A coincidência do encontro dos pesquisadores à beira da lagoa, muito semelhante ao “Poema do Milho” de Cora Coralina, fez com que Felipe tivesse a ideia de batizar o anfíbio de ‘Pseudopaludicola coracoralinae’, em homenagem à poetisa goiana.

A descoberta do novo anfíbio goiano se transformou em artigo publicado no dia 3 de julho no European Journal of Taxonomy. Além dos estudos morfológicos e genéticos, a nova espécie se distingue das demais do gênero por seu canto de anúncio.

Trecho do Poema do Milho

[…] Quando o tempo muda, a saúva revoa e um trovão surdo, tropeiro, ecoa na vazante lameira do brejo e dá para ouvir o sapo-fole, o sapo-ferreiro e o sapo-cachorro, como um canto de acauã de madrugada, para marcar o tempo e chamar a chuva.