Jornalistas enviam carta ao SBT pedindo saída de Marcão do Povo
Após sugerir a criação de ‘campos de concentração’ para pessoas com o coronavírus, jornalistas da emissora escreveram uma carta de repúdio às declarações do apresentador, pedindo até que ele deixe o canal, depois da suspensão imposta chegar ao fim.
Na carta, que foi divulgada pelo portal UOL, os próprios colegas de trabalho acusam Marcão do Povo de não seguir as recomendações de higiene da OMS (Organização Mundial de Saúde) e também as determinadas para a redação do SBT, colocando em risco a vida de colegas de trabalho.
O documento também diz que a afirmação de Marcão do Povo é inadmissível e não condiz com a história do SBT. Por fim, determinam que ele não é digno de ser contratado pela emissora paulista.
O UOL informa também que a carta foi assinada por quase todos os jornalistas da emissora. Uma das exceções é Dudu Camargo, companheiro de Marcão na apresentação do ‘Primeiro Impacto’. A carta está na mão de José Occhiuso, diretor de Jornalismo do SBT.
Até o momento, Marcão do Povo ainda não se pronunciou.
CONFIRA A CARTA NA ÍNTEGRA:
“À direção do SBT Impossível nos calarmos. Ainda que em diversas outras ocasiões que envolveram a mesma pessoa tenhamos optado pelo silêncio, todos os valores de ética, ou mais, de decência humana foram violentados pelo apresentador do telejornal Primeiro Impacto, Marcos Paulo Ribeiro de Morais. Ao defender a criação de “campos de concentração” para pessoas infectadas pelo novo Coronavírus, o apresentador que se autointitula como Marcão do Povo, extrapola, no nosso entender, todo e qualquer limite.
Jornalistas que somos, por vocação acima de tudo, decidimos tornar público nosso repúdio à forma como o apresentador se referiu à maior crise de saúde do século. O que não nos causa ne nenhuma surpresa. O comportamento dele sempre foi o de não acatar orientações nem determinações dos jornalistas que dirigem o Primeiro Impacto e o próprio Departamento de Jornalismo do SBT. E isso sempre foi feito publicamente na redação. Muitos dos que assinam essa carta testemunharam o sr Marcão do Povo dizer, em alto e bom som, que só obedece o dono da emissora e que não presta contas a mais ninguém.
Nós, jornalistas do SBT, vivemos o maior desafio profissional que poderíamos sequer um dia imaginar. Talvez, o maior desafio pessoal. Estamos todos os dias nos expondo a todo tipo de risco para informar a população sobre a pandemia. Porque acreditamos na nossa função e nos princípios desta emissora. Essa, sim, do povo brasileiro.
Não é necessário descrevermos aqui a mais nova absurda declaração feita pelo apresentador. Os campos de concentração da Segunda Guerra Mundial estão entre as maiores vergonhas da humanidade. A necessidade de manter a população em casa é, segundo todas as autoridades de saúde do mundo, a única medida a ser tomada para diminuir o número de mortos. Um apresentador, que tem o privilégio de ser ouvido por todo País, não pode sugerir qualquer orientação contrária a seus telespectadores. É um desrespeito à vida dos que nos assistem e confiam na credibilidade desta emissora.
Hoje – e esse número será maior a cada dia -, morrem no Brasil, , em média, cento e quarenta pessoas vítimas da covid-19. O que significa dizer que, enquanto o sr. Marcos Paulo Ribeiro de Morais está no ar, ao vivo, para todo o Brasil, pelo menos 14 famílias perdem pais, avós, irmãos, maridos, esposas, filhos, amigos, enfim… Pessoas que, segundo o apresentador, deveriam estar em “campos de concentração”. Mais do que envergonhar a todos nós, jornalistas, o sr. Marcos Paulo Ribeiro de Morais não está a altura de representar o nome e a história do SBT”.