Pequi sem espinhos chegará ao mercado ainda este ano
Umas das principais características do pequi – e motivo do temor que muitos têm de comê-lo – são os seus espinhos, que obrigam os amantes do fruto a roê-lo com todo o cuidado. Mas este é um problema que pode estar com os dias contados. O pequi sem espinhos está cada vez mais perto de chegar à mesa dos goianos. De acordo com informações do portal MidiaNews, serão lançadas no mercado três variedades de mudas de pequis sem espinhos ainda este ano.
O projeto nasceu da demanda de produtores goianos, há 22 anos, e é uma parceria entre a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária de Goiás (Emater) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Em Goiânia, já são cultivados mais de 1 mil pés do fruto.
Segundo a engenheira agrônoma Elainy Pereira, de 65 anos, pesquisadora do projeto, o sentimento é de “missão cumprida”, depois de identificar mais de 20 variedades distintas do fruto com essa nova característica. “Me sinto feliz por deixar um banco de germoplasma para os netos e bisnetos que quiserem plantar pequi. Me sinto com a minha missão cumprida, mas foi muito trabalhoso”, disse a pesquisadora em entrevista para o portal.
Na época, diante da exigência de uma reserva legal – área coberta por vegetação – que ocupasse 20 % da propriedade rural, os produtores tiveram a ideia de usar a obrigatoriedade a seu favor.
“Principalmente o pequeno que tem cerca de 20 hectares. Se ele tiver que plantar 20% de floresta, já são 4 hectares, e 4 de 20 iam fazer falta. Aí ele pensou: ‘Vou obedecer a lei plantando uma floresta, mas vou ganhar dinheiro’. E começaram a nos mandar demandas”, explica a pesquisadora, que atua na Emater.
No início, os produtores tentaram, mas não conseguiram fazer com que os pés de pequis germinassem. Isso porque havia todo um processo de tratamento das sementes que ainda precisava ser investigado. “Nós começamos a estudar como quebrar a dormência da semente e como fazer a muda para plantar nessa reserva legal”, relembra a pesquisadora.
Mudanças nos rumos da investigação
Dois anos depois do início do projeto, um produtor rural da cidade de Cocalinho, no Mato Grosso, procurou os pesquisadores dizendo que havia um pé de pequi sem espinhos em sua propriedade. Segundo a pesquisadora, o que aconteceu foi uma recombinação gênica, na qual em algum momento do processo um dos genes variou e saiu sem espinhos.
Para exemplificar, ela comparou o processo com a reprodução humana. “Imagina que o esperma, ao encontrar com o óvulo, tem uma recombinação gênica das duas partes. O mesmo acontece com as plantas”, explica.
Por meio da técnica de clonagem, que objetiva perpetuar as características genéticas em plantas descendentes, os pesquisadores reproduziram a planta e passaram a investigá-la.
Sabor e comercialização
De acordo com a coordenadora será possível comer o pequi tranquilamente, sem se preocupar com espinhos, além de o novo fruto possuir um sabor mais leve. “A coloração é alaranjada, polpa espessa e solta do caroço, o que facilita muito a industrialização. Algumas pessoas gostam de pequi, mas têm medo de comer porque fica lembrando dele o dia inteiro, esse não, ele tem um sabor bastante suave”, explicou a pesquisadora.
Imagem: Reprodução G1 / TV Anhanguera