Uma prova de conhecimentos gerais do concurso público da Prefeitura de Morrinhos (GO), realizada no último domingo (14/01), provocou reações diversas entre candidatos. Enquanto uns ficaram indignados, outros acharam graça ou ficaram indiferentes.
O tema da avaliação era “Qual a origem do racismo?”, mas o que chamou a atenção foram as opções de respostas em várias das questões, como: “Negro parado é suspeito, correndo é ladrão, voando é urubu” e “Negro só tem de gente os dentes”. Curta Mais News teve acesso aos documentos com exclusividade.
O candidato Hélio de Araújo Júnior, que concorre a uma das cinco vagas para fiscal de postura do município com outros 580 concurseiros, se sentiu ofendido. O técnico em segurança do trabalho, que também é músico profissional, passou por vários constrangimentos desde que a prova foi distribuída na sala. “Me senti humilhado por ser o único negro em sala, algumas pessoas olhavam para mim quando chegavam na questão rindo ou abaixavam a cabeça desaprovando aquilo”, desabafa o candidato. “Falei com a fiscal de sala, ela não podia se manifestar mas acabou indo até a frente e falou que nos dias de hoje as pessoas lutam pelos direitos humanos e que uma pergunta dessas foi no mínimo indiscreta e fora de contexto”, continua.
Junior entrou com processo contra a empresa responsável pelo concurso e contra a Prefeitura de Morrinhos e revela que ainda teve dificuldade de fazer a denúncia. “Foi muito difícil denunciar, você chega num órgão público e as pessoas acham isso normal. O Ministério Público da minha cidade me disse que não viu crime algum nisso”, conta.
Hélio disse ainda, com exclusividade à nossa reportagem, que foi a primeira vez que tomou esse tipo de atitude mas que já foi discriminado outras vezes. “Já passei por várias situações como esta e nunca denunciei nada e dessa vez resolvi agir porque me senti realmente num estado vexatório, você estar sentado em uma sala fazendo um concurso com outras pessoas e uma pergunta desconexa e fora do contexto. Me senti insultado e decidi tomar providências”.
Hélio Júnior: “Espero uma reparação pública não por mim, mas para todo povo negro que sofre com isso o tempo todo e isso tem que parar”.
Procurada pela nossa produção, a Prefeitura de Morrinhos chegou a informar que não se manifestaria, mas após a repercussão do caso divulgado com exclusividade pelo Curta Mais News, acabou enviando à nossa redação uma nota oficial. A Prefeitura, por meio da Comissão Organizadora do Concurso Público 01/2017, responsabilizou a Consuplam – empresa responsável pelo certame e pela formulação das questões e aplicação das provas.
Confira a resposta na íntegra:
“A Prefeitura Municipal de Morrinhos, por meio da Comissão Organizadora do Concurso Público 01/2017, vem a público esclarecer que não elaborou a prova que contém a polêmica questão nº 10. Prova aplicada no dia 14 de janeiro último, de conhecimentos gerais sobre: “Qual a origem do racismo?”. A administração do certame Público 01/2017, está sob responsabilidade da Empresa Privada: CONSULPAM – Consultoria Público-Privada, a quem coube a formulação das questões e aplicação das provas.
Importante também registrar ainda que os agentes públicos municipais não poderiam ter conhecimento prévio do conteúdo da prova, até por questão de lisura e segurança do concurso, motivo pelo qual não houve como analisar previamente a polêmica assertiva, antes que se tornasse pública.
Inobstante isso, o Município de Morrinhos, através da prefeitura vem lamentar o ocorrido e se solidarizar com as pessoas que se sentiram ofendidas com o conteúdo pejorativo das alternativas à questão de nº10 da prova de conhecimentos gerais, e entendemos que se mostraram inoportunas, infelizes e inconvenientes.
A prefeitura de Morrinhos não compactua com nenhuma forma de discriminação, seja direta e indireta, por motivos de cor, raça, gênero, preferência sexual etc.
Procuramos sim, promover concretamente políticas públicas de combate aos abusos e ao racismo.
A prefeitura de Morrinhos irá diligenciar junto à banca do concurso, visando tomar providências para que medidas sejam tomadas imediatamente em relação ao tema contido na questão nº 10, da prova do concurso público 01/2017″.
Tentamos contato com o Instituto Consulpam, que tem sede em Fortaleza (CE), mas até o momento não tivemos retorno.
Imagens enviadas com exclusividade para o Curta Mais News.