Novo sucesso da Netflix revela o terror da era digital confrontando ‘fake news’ e a voraz cultura do ‘cancelamento’ online
“O Acusado”, de Philip Barantini, é uma viagem intensa e perturbadora pela escuridão da internet e seus impactos na vida real. O filme explora, com maestria, o perigo das ‘fake news’, e o julgamento online, traçando um paralelo com as caçadas às bruxas do passado.
A premissa central, embora ficcional, reflete casos reais, onde um simples tweet pode virar uma sentença de morte. O jovem Harri, interpretado com uma sinceridade agonizante por Chaneil Kular, torna-se vítima de um erro colossal e passa a ser caçado por uma turba online sedenta de ‘justiça’.
Barantini habilmente retrata o lado sombrio da conectividade. Se antes a internet era a promessa de um mundo unido, em “O Acusado”, torna-se um terreno fértil para o ódio e julgamentos apressados. A claustrofobia que Harri sente não é apenas física, mas digital. Cada notificação, cada clique, intensifica o horror.
A montagem, sob a lente de Alex Fountain, constrói uma tensão implacável. Cada cena, meticulosamente orquestrada, contribui para uma atmosfera de desespero e impotência. A trilha sonora, sutil, mas penetrante, amplifica essa tensão, colocando o público na beirada de seus assentos.
Chaneil Kular, já conhecido por “Sex Education”, entrega uma atuação magistral. O terror em seus olhos e a vulnerabilidade de sua postura expressam o que muitos de nós temem: ser mal interpretado na era digital. Sua performance faz com que sintamos cada ameaça, cada olhar acusador, e cada julgamento precipitado como se fossem dirigidos a nós mesmos.
Um dos pontos altos é a relação do filme com a atualidade. Barantini não se limita a contar uma história fictícia, ele desafia o público a olhar para si mesmo e reconhecer seus próprios impulsos julgadores. Ele nos convida a refletir sobre a rapidez com que clicamos, compartilhamos e condenamos, muitas vezes sem a totalidade dos fatos.
No final, “O Acusado” é um espelho sombrio da sociedade atual. Em uma era de conectividade sem precedentes, o filme nos lembra que, com grande poder, vem grande responsabilidade. E na vastidão da web, onde os fatos são, muitas vezes, ofuscados por sensacionalismo e falso moralismo, o julgamento deve ser deixado para os tribunais, e não para o teclado.
Barantini entregou um thriller moderno, provocante e aterrorizante. “O Acusado” não é apenas um filme para ser assistido, mas para ser refletido e discutido. Em tempos de ‘cancelamentos’ e julgamentos online, é um lembrete oportuno da fragilidade de nossa reputação e da importância da empatia.