Pesquisador da UFG cria filme biodegradável para conservação de frutas

Feito a partir de ingredientes simples, a pesquisa pretende facilitar o trabalho dos pequenos produtores

Anna Júlia Steckelberg
Por Anna Júlia Steckelberg
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O cultivo e comercialização de frutas é muito expressivo no Brasil, e um dos grandes desafios dessa produção é a deterioração rápida do produto entre a colheita e a chegada ao consumidor. Pensando nisso, o pesquisador Igor Vespucci do Programa de Pós-graduação em Agronegócio da Universidade Federal de Goiás criou em sua tese de doutorado um revestimento biodegradável que é aplicado diretamente nas frutas, com resultados tão efetivos de conservação quanto o uso de sacos plásticos com vedação na conservação de alimentos. 

Para entender bem, a pesquisa de Igor chegou a um filme biodegradável que forma uma película em torno da fruta, feito a partir da mistura de água, polvilho azedo, glicerina e canela. Com isso, ele obteve uma mistura simples, barata e com ingredientes de fácil acesso ao pequeno produtor que pode fazer a diferença na conservação de frutas, chegando a dobrar o tempo de conservação do produto. 

Segundo o pesquisador, o produto em que foi aplicado o revestimento chegou a conservar a qualidade por 18 dias mantido em refrigeração, enquanto o produto sem o revestimento, mantido apenas em refrigeração, durou 9 dias. 

O trabalho do cientista tem grande potencial no país. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (2019), o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, com cerca de 44 milhões de toneladas no ano de 2017, das quais 97% são consumidas internamente e 3% são destinadas ao mercado externo.

Por outro lado, existem outros produtos no mercado já em utilização como a cera de carnaúba, bastante utilizada na produção de maçãs, por exemplo. Todavia, Igor explica, ao Jornal da UFG, que a sua intenção era criar algo que além de biodegradável, utilizasse produtos simples e baratos e pudesse ser reproduzido em qualquer lugar, facilitando assim o acesso de pequenos produtores. 

O estudo chegou a ser aplicado em uma comunidade de produtores da Vila Aparecida, Distrito de Jaraguá (GO), pertencente ao Movimento Camponês Popular (MCP), com aceitação de cerca de 10% dos produtores. Testando o revestimento em diversas frutas como o caqui, laranja, uva, maçã, entre outros. Porém, para sua tese, Igor escolheu o maracujá silvestre ‘BRS Pérola do Cerrado’. 

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Igor durante uma oficina para produtores em Vila Aparecida

A fruta foi escolhida, por ser uma espécie que proporciona produção durante vários meses do ano, possibilidade de comercialização in natura ou processada agregando valor e viabilidade para produção em áreas pequenas, com boa produtividade e rentabilidade. Igor ainda destaca que é uma espécie bastante utilizada no entorno do DF em Goiás e de boa adaptabilidade para o Cerrado.

Para se ter uma ideia, a área cultivada com plantas frutíferas no Brasil está distribuída em 960.123ha com frutas tropicais, 861.682ha com frutas subtropicais e 140.805ha com espécies de clima temperado. A fruticultura está presente em todos os estados brasileiros e, como atividade econômica, envolve mais de seis milhões de pessoas que trabalham de forma direta e indireta no setor, sendo que o estado de Goiás (2018) obtém uma área de aproximadamente 384 hectares de maracujá, com uma produção de aproximadamente 6.100 toneladas de frutos de maracujazeiro.  

“A importância da cadeia produtiva do maracujá, bem como também dos agricultores familiares que os produzem é real. Frequentemente se observa, no âmbito familiar rural, a perda quantitativa e qualitativa de maracujás ou agricultores encontrando dificuldades de aproveitar os excedentes para compor uma receita em sua renda mensal. O fato destes frutos muitas vezes se perderem, leva à necessidade de se pensar em uma saída viável, técnica e adaptável à realidade dos agricultores familiares, visando agregar valor ao produto final e a geração de renda extra”, comentou o pesquisador ao Jornal da Universidade.

Fonte: Jornal UFG