Pinóquio é conhecido tradicionalmente como um conto infantil. Isso acontece porque a versão do roteiro mais popularizada é da Disney. Porém, ao se fazer uma pesquisa histórica e literária , percebe-se que o famoso livro do autor Carlo Collodi, que  já ganhou inúmeras adaptações cinematográficas, é uma obra italiana que, originalmente, se chamou “História de um boneco”. E, precisamos fazer um resgate deste momento para entender a versão da Netflix deste clássico. 

E esta história foi muito inspirada na situação econômica e social da Itália da época, que era marcada por problemas financeiros derivados da reunificação italiana.  Tanto que o primeiro final  feito para a história traz Pinóquio enforcado e a Raposa e o Gato roubando as moedas de ouro dele. O final foi modificado meses depois, após muitos pedidos dos leitores do jornal no qual a história era publicada  para que a aventura do boneco continuasse.

Naquele momento, os personagens do livro do Pinóquio eram bastante ambíguos, com ninguém sendo totalmente bom ou completamente mau. Pinóquio era um boneco malandro e cometia vários erros. Em determinado ponto, chega a matar o Grilo Falante.  Outro destaque da história original é a pobreza na vida das pessoas também influenciava muito, deixando a história ainda mais verdadeira.

Após toda esta contextualização podemos explicar agora que Pinóquio por Guillermo del Toro é baseado no mesmo conto que Pinóquio da Disney. A grande diferença é que o diretor do sucesso da Netflix optou por uma versão mais sombria e mais densa deste conto de fadas infantil. Não seria ousadia dizer que, nos moldes como Pinóquio por Guillermo del Toro é apresentado, o filme da Netflix deixa de ser infantil e se torna um filme adulto de análise do comportamento humano. 

‘Pinóquilo’, de Guillermo del Toro e Patrick McHale, conta como Gepetto (dublado por David Bradley) concebeu o boneco de madeira (voz de Gregory Mann) que  ganhou vida pelas mãos da Fada Azul (voz de Tilda Swinton) para fazer companhia ao idoso. 

A diferença está na forma como essa história nos é apresentada.O filme recria o clássico da maneira contada originalmente, acrescentando uma proximidade temporal e tempero político com a entrada do facismo italiano e da religião católica nos debates.  Neste contexto, o nosso boneco de madeira famoso, que foi mostrado pela Disney como um menino que gostava de mentor, é visto como o soldado ideal pelos fascistas e como   um demônio  para os católicos fervorosos. 

A animação, feita em stop motion, está sendo considerada uma verdadeira obra-prima cinematográfica pela crítica.A animação traz uma profunda  reflexão a vida e a morte, a relação entre pais e filhos e as surpresas que a vida nos proporciona, para o bem ou para o mal. É um roteiro sem exageros e com muito impacto que deixam o espectador sem chão em muitos momentos, por colocar em análise valores rígidos.