Kambô: conheça a vacina do sapo que promete aumentar a imunidade

A medicina da floresta está cada vez mais popular nos grandes centros urbanos.

Mariane Faz
Por Mariane Faz
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O kambô é uma medicina muito utilizada entre membros de tribos indígenas como os katukinas, kaxinawás e yawanawás, entre outros. A rã arbórea Phyllomedusa bicolor, chamada de kambô, vive nas copas das árvores da região amazônica e quando em situação de ameaça solta uma secreção. A medicina consiste nesta secreção, que é extraída da rã e aplicada diretamente na pele das pessoas, através de pequenos furinhos feitos pelo aplicador.

Nos homens pode ser aplicada nos braços ou no peito, e nas mulheres é mais comum que seja aplicada na panturrilha. É obrigatório que o paciente esteja em jejum e que tome 3 litros de água, 1 hora antes da aplicação.

Pele após a aplicação da secreção da rã kambô

O efeito é quase imediato, com uma sensação de calor extremo pelo corpo inteiro. Algumas pessoas têm desconfortos estomacais que podem resultar em vômito ou até mesmo diarreia. Após esse período, é importante se alimentar com caldo quente durante o resto do dia, repousar e beber água e chás. Os efeitos benéficos são sentidos após a aplicação, em até um ano, quando é recomendado o reforço.

A procura pelo kambô tem aumentado cada dia mais nos centros urbanos do Brasil, ainda mais depois da pandemia do COVID-19. A secreção da rã promete aumentar a imunidade e ainda outros benefícios, como por exemplo o tratamento de doenças de cunho psicológico (depressão, ansiedade, síndrome do pânico) e também para casais que tem dificuldade em ter filhos. São inúmeros relatos de curas através dessa medicina da floresta.

A terapeuta Mura, aplicadora da secreção, afirma “Nós acreditamos que o Kambô tira da gente a amargura, pois essa frequência chamada de amargura nos enfraquece, a gente quando enfraquece fica vulnerável. Daí vem o Kambô e nos liberta dessa energia, dessa frequência e nós retomamos a nossa força original, que você pode chamar de imunidade”.

O Kambô pode auxiliar no aumento da imunidade, e ser utilizado como uma vacina (uma vez ao ano), por isso ela é conhecida popularmente como “vacina do sapo”. É importante a procura de um profissional bem cotado e com experiência no assunto. Mas vale ressaltar que a substância ainda é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Outra preocupação é o bem estar do animal. Existem profissionais capacitados para retirar essa secreção da rã sem causar nenhum mal ao simpático anfíbio.

kambo

O biólogo Carlos Jared, diretor do Laboratório de Biologia Celular do instituto, ressalta que ainda é muito prematuro falar sobre os benefícios da “vacina do sapo”. “Só temos 30 anos de estudos sobre os efeitos dos venenos dos anfíbios. Se comparado com as pesquisas do veneno de cobras, por exemplo, que vem sendo estudado desde o século XVII, ainda estamos só no começo. Nunca houve uma ação de saúde pública direta para estudá-lo. Seria importante coletar o veneno bruto do animal, passá-lo por um processo de separação química, isolar cada substância e estudá-las separadamente para, assim, afirmarmos veementemente sua eficácia. Mas para isso é preciso tempo, já que o processo é longo e trabalhoso.”

O Kambô já foi objeto de estudos científicos como um artigo da Universidade Federal do Paraná e também pauta de jornais famosos como “The New York Times”.

Imagens: reprodução BBC