Fóssil de planta de 280 milhões de anos é encontrado no Brasil

Essa planta sobreviveu duas extinções em massa e serviu de alimento para os dinossauros

Anna Júlia Steckelberg
Por Anna Júlia Steckelberg
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No nosso planeta há muitos mistérios e milhares de coisas ainda para serem descobertas. Para você ter uma ideia, recentemente, uma pesquisa publicada na revista Review of Paleobotany and Palynology revelou a descoberta do fóssil de uma planta de 280 milhões de anos atrás, muito anterior aos primeiros dinossauros.

Agora vem a parte mais surpreendente, misteriosa planta viveu em uma região do antigo supercontinente Gondwana onde, hoje, localiza-se a Bacia do Paraná.

Pois bem, esse fóssil pertence a uma cicadácea (Cycadale), uma linhagem de plantas que sobreviveu até hoje e conta com cerca de 350 espécies e com folhas que remetem às samambaias.

Essa espécie traz em suas raízes muita história. Para começar, elas sobreviveram a duas extinções em massa na Terra. A primeira aconteceu há 250 milhões de anos, no período Permiano-Triássico, e foi a mais letal da história: 95% das espécies marinhas e 75% das terrestres foram limadas do planeta.

Já a segunda ocorreu há 65 milhões de anos, no Cretáceo-Paleógeno. É a extinção em massa mais recente da Terra e a que pôs fim aos dinossauros. Vale dizer, aqui, que as cicadáceas serviam de alimento para os dinos.

As cicadáceas se espalharam pelo mundo todo: América, Ásia, Austrália, África. Seu apogeu aconteceu há 120 milhões de anos, mas elas nunca chegaram a dominar o reino vegetal.

O fóssil de cicadácea é o pequeno pedaço de madeira da imagem que abre este texto. Ele possui 12 cm de comprimento e 2,5 cm de diâmetro. Mas a verdade é que ele não foi encontrado agora – e sim décadas atrás, nos anos 1970.

Acontece que, na época em que foi descoberto, os botânicos classificam a planta como um tipo parecido, o licopódio, que também era abundante nessa região de Gondwana. 

Ninguém deu bola para ela até que o brasileiro Rafael Spiekermann, estudante de doutorado do Instituto de Pesquisa Senckenberg, em Frankfurt, na Alemanha, resolveu analisá-la para sua tese sobre licopódios. 

“O fóssil possui uma anatomia totalmente diferente”, contou Spiekermann ao New York Times. “Se você cortar uma cicadácea hoje, verá que os padrões anatômicos são semelhantes.”

O estudo teve colaboração também de outros pesquisadores do Instituto Senckenberg e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pelas suas características, a planta recebeu o nome de Iratinia australis. “Australis” que diz “sul” em latim, e Iratinia faz referência à Formação Irati, a formação geológica da Bacia do Paraná, onde ela foi encontrada.

Plantas como a Iratinia australis e as samambaias são o que os cientistas chamam de fósseis vivos, organismos que têm estruturas praticamente idênticas a seus antigos ancestrais estudados em fósseis propriamente ditos. Outro exemplo são os peixes celacantos, que habitam a Terra há 400 milhões de anos.

O fóssil encontrado é o mais antigo exemplar de madeira que preserva as características anatômicas das cicadáceas. Essa descoberta atrai os olhos para a região brasileira, já que pode ser um berço de antiguidades.

Mas o questionamento fica aqui: como essa planta conseguiu resistir a várias extinções em massa e se espalhar pelo mundo?

 

Imagem de capa: Reproduzida da Internet