Estudo mostra como quem já teve Covid-19 pode ter anticorpos pelo resto da vida

Estudo publicado pela Revista Nature mostrou que as células da medula óssea de quem teve uma infecção leve podem gerar defesas contra o coronavírus por décadas

Anna Júlia Steckelberg
Por Anna Júlia Steckelberg
4e61ef885d3fc11f95733e9c86d545cd

Notícia boa e inédita: Um estudo publicado na revista Nature revelou, pela primeira vez, que pessoas que contraíram a covid-19 de forma ligeira ou moderada desenvolvem uma célula imunológica capaz de produzir anticorpos contra o SARS-CoV-2 para o resto da vida.

Nas observações em pessoas infectadas pelo vírus, mostrou-se que o nível de anticorpos começou a diminuir após quatro meses. Entretanto, apesar dessa queda de anticorpos, o doente desenvolveu também uma resposta imunológica completa, que inclui a criação de glóbulos brancos capazes de eliminar o vírus, muitos meses e até anos após a primeira infecção. 

Vários estudos têm indicado que as pessoas que passam pela infecção e aquelas que são vacinadas geram uma resposta celular imune que as protege de infecções. O estudo publicado pela Nature analisou 77 doentes que tiveram a doença de forma ligeira ou moderada (grupo sobre o qual existiam dúvidas).

Na maioria, eles notaram que os anticorpos diminuem acentuadamente após quatro meses, mas a redução é mais lenta e essas moléculas ainda estão presentes no sangue 11 meses após a doença. O estudo foi o primeiro a analisar a presença de células plasmáticas de longa vida na medula óssea.

Mas, calma, vamos te explicar. As células plasmáticas são geradas quando um corpo estranho entra no organismo. No caso da covid-19 é, por exemplo, a proteína S que o vírus usa para infectar as células humanas.

Após a infecção, essas células imunes viajam pela medula óssea, onde permanecem em estado latente. Se o vírus reaparecer, as células regressam à corrente sanguínea e começam novamente a produzir anticorpos.

O estudo mostra que a grande maioria dos doentes que conseguiram recolher amostras de medula óssea, gerou células plasmáticas no sistema imunológico.

Ali Ellebedy, imunologista da Escola de Medicina da Universidade de Washington e pesquisador principal do estudo, destaca, em declarações ao jornal espanhol El País: “As células plasmáticas podem durar a vida inteira. Essas células vão continuar e produzir anticorpos para sempre”.

Mas veja só, a presença de anticorpos nem sempre significa que a pessoa está “imune” à reinfecção, embora seja provável que isso aconteça.

Ellebedy esclarece que se os anticorpos produzidos por células de longa vida não forem suficientes, o sistema imunológico ativa as células B de memória, capazes de produzir ainda mais anticorpos.

Esse estudo encontrou esses tipos de células em doentes, uma descoberta que é consistente com estudos anteriores que sugerem que a imunidade contra o SARS-CoV- 2, mediada por diferentes tipos de linfócitos e células do sistema imunológico, provavelmente durará anos.

O mesmo ocorre com outras infecções. Os anticorpos e células de memória contra o SARS, um coronavírus que provocou a morte de pelo menos 800 pessoas no início da última década, duram pelo menos 17 anos.

Com a varíola, mais de 50 anos após a vacinação, as pessoas retêm células B capazes de produzir anticorpos se o vírus reaparecer no organismo.

“Essas células continuarão a produzir anticorpos eternamente”, acrescenta Ali Ellebedy ao jornal.

Uma das questões que se coloca é se esse tipo de célula do sistema imunológico é capaz de neutralizar as novas variantes que têm surgido. Estudos anteriores mostraram que o sistema imunológico dos infectados e vacinados neutraliza suavemente as variantes mais graves detectadas até agora. 

Existem alguns tipos de anticorpos que não conseguem neutralizar o vírus, mas o sistema imunológico nunca aposta tudo numa jogada só. Ele produz anticorpos contra muitas proteínas diferentes do vírus e das células de memória com as mesmas capacidades, de modo que é muito difícil que a variante escape a todas e, sobretudo, faça alguém adoecer, a ponto de causar graves problemas de saúde ou até a morte.