Estudo aponta ‘apagão sexual’ entre jovens de 18 a 24 anos

A análise considerou que aumentou o percentual de homens e mulheres que disseram não ter relações sexuais, nos últimos 12 meses

Anna Júlia Steckelberg
Por Anna Júlia Steckelberg
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Uma pesquisa sueca comparou dados com um outro estudo de 2002 e concluiu que os jovens estão mais a fim de ter um wifi do que de fazer sexto. A análise considerou que na faixa etária de 18 a 24 anos subiu 11% o percentual de homens e em 4% o de mulheres, que disseram não ter relações sexuais, nos últimos 12 meses.

Mesmo considerando a pandemia e as medidas de isolamento que podem ter atingido a avaliação,  ainda assim há registro de pouca prática sexual nos neste grupo, principalmente se comparadas às gerações passadas na mesma faixa etária. Ao que parece, as conquistas da diversidade e da liberdade adquirida no que diz respeito ao sexo, não atiçou a vontade dos jovens em praticar, de fato. 

Essa expansão do desinteresse pelo sexo vem sendo chamado por especialistas de “apagão sexual”. Isso significa que gera um choque, pois vivemos em uma sociedade que tem valorizado a livre expressão da sexualidade e a quebra de tabus, como a virgindade antes do matrimônio. Mas, em contrapartida dessas dinâmicas socioculturais, o apetite para o prazer sexual está regredindo.

Segundo Theo Lerner, sexólogo, essa tendência não deve ser vista como uma herança do conservadorismo. Entretanto, o estudioso avalia que, entre outros fatores, a tecnologia proporcionou dois fenômenos: de um lado, há o acesso ilimitado a todos tipo de informações, como conteúdos pornográficos, que acabam por banalizar e estereotipar a prática sexual. De outro, há a virtualização e distanciamento das relações causadas pelas redes sociais.

Enquanto isso, o membro da divisão de clínicas ginecológicas do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP) disse que os relacionamentos estão competindo com as formas de entretenimento. “Neste contexto, os relacionamentos passam a ser conduzidos como um videogame, com baixa tolerância à frustração, troca frequente e rápida de parceiros e com foco quase exclusivamente na atividade sexual”. Além disso, o membro da divisão ainda disse que a pandemia pode também contribuir para o afastamento dos jovens, já que contato interpessoal se tornou mais dificultado, o que reforçou as formas de comunicação virtuais.

O “apagão sexual” não pode ser explicado apenas pela forte presença da tecnologia nas relações humanas. “A atividade sexual pressupõe uma certa autonomia dos envolvidos. Jovens que demoram para amadurecer têm maior dificuldade em navegar nas incertezas do relacionamento interpessoal”, comentou sexólogo, que ainda lembrou que o fenômeno está associado às estatísticas de uma tendência crescente em todo o mundo. Inclusive, na América Latina, ocorre que, nos últimos anos, filhos têm adiado cada vez mais a saída da casa de seus pais.

Em um mundo que fala mais abertamente sobre sexo, há também maior liberdade para dizer “não”. Tanto que, hoje, entra-se muito em discussão o estupro no contexto do casamento, em que pouco se debatia anos atrás. Ainda, fala-se sobre a autonomia das pessoas não se sujeitar ao sexo apenas para satisfazer oparceiro.

Fato é que a banalização do sexo traz seus malefícios em todas as gerações. Estima-se que os jovens quando adultos terão que procurar várias terapias para aceitar a rejeição e entender de verdade o que é desinteresse ou disfunção sexual.

Os dados da pesquisa foram apurados pelo Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, e pelo Departamento de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos.

Fonte: Portal Federal