Desabafo da mãe que excluiu redes sociais da filha com 2 milhões de seguidores viraliza

‘A vida só presta quando se é feliz offline primeiro', escreveu Fernanda Kanner

Redação Curta Mais
Por Redação Curta Mais
1ce9801cc04fe322d53b0ed06fed7605

A médica paulista Fernanda Kanner virou assunto nacional ao decidir apagar o perfil da filha de 14 anos nas redes socias. E não era um perfil qualquer. Nina era influente em plataformas como TikTok e Instagram totalizando cerca de 2 milhões de seguidores com direito até a fã clube. Ao perceberem o desaparecimento dela em seus feeds, seguidores foram ao perfil da mãe para questionar o motivo. A resposta veio por meio de um post no Instagram que acabou viralizando e gerando certa polêmica.

Leia o texto na íntegra:

“Turminha teen, eu vou escrever aqui porque recebi muitos directs de seguidores da Nina querendo saber o que aconteceu por ela ter sumido.

Decidi apagar a conta do Tiktok e do Instagram dela. Chata, eu sei, mas nossa função como mãe não é ser amiguinha de vocês e isso vocês só vão entender em retrospectiva. Papo de tia.

O carinho que vocês têm por ela é a coisa mais fofa mas eu não acho saudável nem para um adulto e muito menos para uma adolescente basear referências de autoconhecimento em feedback virtual.

Isso é ilusão e ilusão mete uma neblina danada na estrada do se encontrar. Entre suas mídias eram quase 2 milhões de seguidores, dezenas de fã clubes, tudo muito doce mas também prejudicial para qualquer adolescente em processo de descoberta e busca pela individualidade.

Eu não quero que ela cresça acreditando que é esse personagem. Não quero ela divulgando roupas inflamáveis de poliéster made in China. Não quero minha filha brilhante se prestando a dancinhas diárias como um babuíno treinado. Acho divertido.. e mega insuficiente.

Triste geração em que isso justifica fama. Li outro dia que a gente tem que voltar a ter vergonha de ser burro e é bem por aí. Saudade de quando precisava ter talento em alguma coisa para se destacar. Nascemos com vários dons que nos fazem únicos mas quando a gente copy paste a manada eles se diluem no processo e a gente cresce sendo só mais um na multidão.

Não quero que ela se emocione com biscoitos (assim que fala?) e elogios. Nem que se abale com críticas de quem não conhece. Opiniões são só reflexos de quem está oferecendo e não de quem recebe. Você me acha linda pq você é linda ou está feliz. Você me acha feia pq você é feia ou teve um dia ruim. Eu não tenho nada a ver com isso.

A fã número um dela sou eu e ela continuará dando as caras por aqui, se quiser. Quando ela tiver conteúdo interessante para dividir ela pode voltar a ter conta.

Conforme os planos, ela vai pra Suíça junto com big bro no segundo semestre continuar os estudos por lá. Pular de para-quedas, estudar biologia na floresta, salvar umas vacas nos Alpes. A vida só presta quando se é feliz offline primeiro. Bjs da tia Fê”

Enquanto alguns fãs (a maioria pré-adolescentes) criticaram a postura da mãe, outros saíram em defesa da atitude “corajosa” de Fernanda.

A neuropsicóloga Deborah Moss, mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela USP, disse à revista Crescer que Fernanda é uma mãe muito corajosa. “Para ‘bancar’ a possível frustração, braveza e revolta de um filho é preciso ter coragem. É uma atitude louvável no sentido de ter muito claro a educação que ela quer dar para os filhos, e manter a firmeza dos limites. E o motivo por ela fazer isso também é de aplaudir, pois os jovens estão em uma fase de autoafirmação, de construção da autoestima e ficar exposto dessa maneira e na dependência dos seguidores pode ser muito prejudicial”, afirmou

Fernanda, que também é mãe de Nicholas, 16, e Thomas, 11, revelou à publicação como foi a reação de Nina com a decisão. “Ela ficou muito brava uns dois dias, trancada no quarto dela, sem falar comigo. Depois, ficou uns três dias meio ‘deprê’ e, ao final da semana, voltou ao normal. Ficou claro que estava passando por uma espécie de ‘abstinência de dopamina’. Quem assistiu ‘O Dilema das Redes’ sabe do que eu estou falando. A gente está tão condicionado a essa avalanche artificial do neurotransmissor em forma de likes, comentários e notificações que, quando somos privados disso, o cérebro dá um tilt. Deixamos de ter um prazer suficiente em coisas que antes bastavam, como tomar um sorvete com os amigos ou ler um bom livro. Eu quero que a Nina entenda que o valor dela vem de dentro e não ao que os seguidores atribuíam a ela. Ela sempre lidou muito bem com crítica; é muito resiliente e dava risada dos inevitáveis haters. Essa parte não me preocupava. O que mais me angustiava era a bajulação. Era muita, muita ‘polição de ego’ o dia inteiro e pouco aprimoramento interno. Não queria jamais que ela acreditasse que beleza era o que ela tinha de mais especial”, disse à Crescer.