Crítica: Novo filme com Manu Gavassi é raso e decepcionante

Me Sinto Bem Com Você tenta retratar relações humanas na pandemia mas cai no clichê e não entrega naturalidade

Giovana Andrade De Almeida
Por Giovana Andrade De Almeida
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Lançado na plataforma de streaming Amazon Prime na quinta-feira (20), o filme “Me sinto bem com você”, dirigido por Matheus Souza e estrelado por Manu Gavassi, tem a proposta de abordar relacionamentos em tempos de pandemia. A ideia é boa, principalmente considerando a diversidade apresentada na produção, que aborda não apenas relações amorosas mas também as ligações entre familiares.

 

No entanto, a obra decepciona ao tratar de temas profundos de maneira rasa. Os diálogos são, em maior parte, extremamente clichês e repetitivos. O tema da saúde mental é um dos destaques: o termo é mencionado inúmeras vezes mas o tema não ganha nuances, como se estivesse ali apenas porque está em alta nos últimos tempos. 

 

A principal prova de que não há preocupação real é a falta de alerta de gatilhos, tanto para o trecho que alude ao suicídio quanto para o monólogo sobre estupro. Esse monólogo é, inclusive, o ponto mais baixo do filme, visto que devido à falta de contextualização, banaliza um assunto sério. 

 

As atuações também deixam a desejar, embora isso se deva em maior parte ao roteiro ruim, composto majoritariamente por diálogos. O problema não é a falta de ação, visto que filmes como Antes do Amanhecer (1995) cumpriram com excelência a proposta de valorizar as ligações humanas, mas sim a maneira como a história escrita por Matheus Souza não é capaz de explorar essas ligações de maneira convincente.

 

Executados de maneira truncada, os diálogos não passam naturalidade. Adriana, a personagem de Manu Gavassi, em nada se difere da persona encarnada pela atriz e cantora quando participou do Big Brother Brasil em 2020. Matheus Souza, o diretor, atua como par romântico de Manu e também não entrega muito: suas falas mais parecem lidas do que interpretadas. 

 

Outros núcleos, que incluem duas irmãs confinadas em casas diferentes, um casal que se resumia a sexo casual e outro que se apaixonou em meio à quarentena, também possuem diálogos rasos que se pretendem profundos mas parecem saídos de um gerador automático utilizando palavras-chave.

 

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O destaque fica para Thati Lopes e Victor Lamoglia, que interpretam um casal que está confinado junto e enfrenta as incertezas trazidas pelo longo tempo de relacionamento. Os atores são os únicos que conseguem passar verdade e serem realmente carismáticos, além de protagonizarem as cenas mais engraçadas do filme.

 

Também cabe elogiar a cinegrafia. O uso de meia-luz e iluminação colorida durante a maior parte da produção passam uma sensação de melancolia que traduz bem os tempos de isolamento social, além de tornarem o filme muito bonito. No entanto, a beleza do formato não é o suficiente para salvar a história.