Os deliciosos doces caseiros fazem a fama de Goiás, dentre eles destacam-se os doces cristalizados. Eternizados nos versos da mais famosa poetisa da Cidade de Goiás, Cora Coralina, “Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”, a tradição das doceiras da Cidade de Goiás, que resgatam técnicas ancestrais do preparo de guloseimas, tem se mantido viva, a anos na cidade. Desde os esforços de cada doceira, até a Associação Mulheres Coralinas (criada em 2016 para atender vítimas de violência), as cozinheiras se inspiram na poetisa para conservarem uma das principais partes da cultura gastronômica goiana.

Imagem disponnível na página oficial do Facebook da Associação Mulheres Coralinas

É impossível visitar a Cidade de Goiás e não se deliciar com seus tradicionais e irresistíveis doces, imortalizados pela vilaboense Cora Coralina, que se dizia mais doceira do que escritora, e que escondia seus poemas em caixinhas de doces, tanto por receio do marido quanto para presentear amigos. Hoje, em homenagem à poetisa, a associação das coralinas deu continuidade ao seu legado, realizando a capacitação de mulheres, a partir de oficinas ministradas por mestras detentoras dos conhecimentos tradicionais de produção de doces. Ao todo, mais de 150 cozinheiras e artesãs já passaram pela associação. 

Unindo a poesia à tradição, as doceiras dão às sobremesas um sabor autoral, que além de deliciosos, contam a história da cidade, de Cora, e não permitem que as técnicas se percam com o passar dos anos e com a industrialização do setor alimentício. A tradição doceira é tão forte na cozinha goiana, que os doces na Cidade de Goiás constituem um Patrimônio Cultural Imaterial. 

Além disso, em 2018 foi realizada a primeira edição do Festival Doçuras de Goiás, que teve a Associação Casa de Cora Coralina como anfitriã e o apoio da Prefeitura Municipal da Cidade de Goiás. O evento foi um festival de doces em homenagem à tradição doceira de Goiás com oficinas e palestras com tradicionais doceiras da cidade, além de chefs de outros locais.

A tradição de fabricar doces cristalizados vem sendo passada de geração em geração há séculos, com receitas que já eram feitas pelas nossas tataravós, bisavós e avós, contribuindo para a construção da tradição desse doce no estado de Goiás. 

Não existem estudos que comprovem ao certo qual é a origem das sobremesas cristalizadas. Porém, existem registros de doces cristalizados ainda em eras medievais, em livros do século XVIII na Europa. Sabemos também que a cultura de conservar frutas com açúcar surgiu com os povos árabes, ainda na idade média . Acredita-se que a tradição tenha chegado às terras tupiniquins com os imigrantes, e que a partir de então as receitas tenham sido construídas e aprimoradas.  

A técnica de cristalização surgiu inicialmente como uma alternativa para conservar as frutas por mais tempo. A conservação de alimentos pela secagem é uma das mais antigas e importantes práticas, sendo usados inicialmente métodos como: secagem ao sol, em estufa, em superfícies aquecidas, pelo frio (liofilização) e por atomização. A cristalização, surgiu algum tempo depois, como um dos processos que auxilia na preservação de frutas por meio da remoção parcial da água contida na matéria-prima. O método consiste, basicamente, em impregnar a fruta com açúcar até que a sua concentração atinja o ponto de impedir o apodrecimento. 

Deliciosos e com função de conservação, não é atoa que os doce cristalizados são tão famosos em Goiás e em outras regiões do Brasil. Muito além de uma simples receita, cada doce e doceira do estado tem a sua especialidade e suas particularidades, fazendo dos doces cristalizados, além de uma sobremesa, uma das principais tradições goianas!