Conheça 4 pesquisas agrícolas da UFG que buscam preservar o cerrado

Desde 1985, o Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas da UFG promove estudos com grandes culturas de plantas do nosso cerrado

Anna Júlia Steckelberg
Por Anna Júlia Steckelberg
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Historicamente, as técnicas agrícolas permitiram que o ser humano abdicasse da vida nômade, o que deu origem às primeiras civilizações. Mesmo sem muitos conhecimentos, os agricultores primitivos já selecionavam as melhores variedades de sementes para plantar e colher alimentos de qualidade.

Fato é que muitos avanços científicos ocorreram de lá pra cá e, atualmente, com o desenvolvimento da ciência genética, é possível transformar o DNA de espécies de plantas para que elas sejam mais produtivas, nutritivas e resistentes a pragas, doenças e mudanças climáticas.

Mas, o que poucos sabem é que experiências do tipo são realizadas no Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas da UFG (PPGGMP). Desde 1985 o programa promove estudos com grandes culturas de arroz, feijão, milho, algodão, sorgo, soja, cana-de-açúcar e eucalipto, localizadas principalmente na região Centro-Oeste.

Pois bem, como os resultados do melhoramento genético dependem do ambiente em que uma determinada espécie será cultivada, o PPGGMP também realiza pesquisas sobre  a conservação de plantas nativas do Cerrado e demais condições ambientais do bioma.

Vamos te apresentar alguns desses estudos:

– A pesquisa da doutoranda Laysla Coêlho, sob orientação do professor Thiago Souza, ajudou na obtenção da primeira variedade brasileira de feijão carioca resistente ao crescimento bacteriano. Para quem não sabe, esses micro-organismos causam uma doença que geram perdas superiores a 50% na lavoura. Inclusive, Laysla foi indicada ao prêmio Melhoramento para Leigos no 10º Congresso Brasileiro de Melhoramento de Plantas, em 2019.

– Enquanto isso, o projeto conduzido pela professora Leila Garcês originou um bioproduto, obtido a partir do fungo micorrízico encontrado nas raízes de uma orquídea do Cerrado.  O bioproduto é capaz de controlar doenças específicas nas plantações de arroz, tomate, soja e cana-de-açúcar, substituindo o uso de agroquímicos. Agora surpreende-se, o Laboratório de Genética de Microrganismos (LGM) assinou um acordo com a Ballagro Agro Tecnologia para o desenvolvimento dessa tecnologia  em larga escala.

– Orientado pelo professor João Batista Duarte e co-orientado pelos pesquisadores Marc Giband (Cirad, França) e João Luis da Silva Filho (Embrapa-Algodão), o doutorando Saulo Muniz Martins propôs a utilização de uma plataforma de fenotipagem radicular para avaliar características de raiz no algodão. Ao associar as características encontradas à marcadores genéticos, foi possível identificar plantas de algodão mais adaptadas a ambientes de estresse.  O projeto foi até premiado no 12° Congresso Brasileiro de Algodão e recebeu o Certificado de Reconhecimento Consuni UFG 2019.

– O doutorando Leonardo Levorato Freire, orientado pela professora Mara Rúbia Rocha, também entrou na lista de premiados do PPGGMP.  O cientista recebeu o ONTA Travel Award 2019, durante o 51° Annual Meeting da ONTA (Organização dos Nematologistas da América Tropical), realizado em San Jose, na Costa Rica. O trabalho dele foi reconhecido por avaliar o quanto um nematoide, microrganismos que vivem no solo e causam danos à plantação, afeta os processos de defesa e de fotossíntese da planta. 

Por fim, há outro destaque: o acervo do PPGGMP. Ele conta com coleções de germoplasma in vivo de numerosas espécies frutíferas nativas do Cerrado, como o pequi, a cagaita, mangaba, castanha do baru, jatobá-do-cerrado e o caju-do-cerrado.

As coletas desse material começaram em 1995 pelo professor Lázaro Chaves e, posteriormente, as professoras Mariana Telles e Thannya Soares ingressaram no projeto. Anualmente os pesquisadores percorrem todo o Cerrado Brasileiro em busca de mais acessos para comporem a coleção.

Para você entender direito, germoplasma é o conjunto de genótipos de uma espécie que são conservados para uso, por exemplo, em programas de melhoramento. 

Com isso, bancos de germoplasma correspondem a locais onde são mantidas as coleções de amostras de indivíduos (como DNA) visando conservar a variabilidade genética existente em uma ou mais espécies. Desta forma, os frutos são protegidos da extinção.  

Agora, veja bem, os métodos utilizados para melhoramento genético das culturas podem ser considerados uma forma ecologicamente responsável de aumento da produção, pois não dependem de novas áreas de plantio, evitando assim o desmatamento.

Para completar, a tolerância natural a pragas e insetos reduz a necessidade da utilização de agrotóxicos, o que impede a contaminação do ecossistema. Essa efetividade das lavouras é importante no contexto de  crescimento populacional, pois alia a alta demanda por alimentos à agricultura sustentável.

Entre outras vantagens pode-se destacar a redução das dependências de importação de alimentos e a colheita de produtos com características físicas mais atraentes, como as espécies sem sementes.

Além da interação com a Embrapa, Emater e diversas universidades brasileiras, os professores do PPGGMP desenvolvem projetos em parceria com instituições internacionais na França, China, Colômbia, Estados Unidos e Uganda.

E não para por aí, o programa  também faz parte da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (RIDESA), principal núcleo de pesquisa em cana-de-açúcar no Brasil.

Atualmente, as variedades de cana da Ridesa são cultivadas em mais de 65% da área com cana-de-açúcar no país, uma contribuição de cerca de 12,3% na matriz energética do Brasil. São 313 empresas envolvidas, que representam  cerca de 75% das entidades brasileiras produtoras de cana, açúcar, etanol e bioeletricidade. 

Fonte: Jornal UFG

Imagem: Pexels