Cidade na divisa de Goiás e Tocantins carrega história e arquitetura dos negros escravos

A cerca de 420 km de Palmas e 630 km de Goiânia, Arraias é uma das referências culturais, turísticas e econômicas do Tocantins.

Mariane Faz
Por Mariane Faz
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Há 282 anos, nasceu Arraias, oficialmente. A data de 1° de agosto de 1740 foi marcada pela transferência, assinada pelo governador da Capitania de São Paulo, Dom Luís de Mascarenhas, do povoado de Chapada dos Negros para uma área distante a poucos quilômetros. O povoamento da região havia iniciado quatro anos antes para exploração de ouro.

O tempo passou, mas a importância histórica do município a cerca de 420 km de Palmas e 630 km de Goiânia, permanece viva no orgulho dos arraianos, nas construções históricas, nas tradições culturais, nos muros de pedra do antigo povoado, que testemunharam um dos garimpos mais ricos da região e a consequente presença de enorme número de negros escravizados.

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Igreja de Nossa Senhora dos Remédios em Arraias – Foto: Flavio Cavalera

Nessa cidade tocantinense existem muitos encantos, um turismo de tradição e atrativos naturais belíssimos também. Vamos contar um pouco sobre Arraias por aqui.

Acompanhe:

 

História

Museu Histórico e Cultural de Arraias é um importante patrimônio do município – Adilvan Nogueira/Governo do Tocantins

Tudo começou com um arraial que já nasceu com seu nome definitivo, em referência à espécie que traz um ferrão no rabo, muito comum no ribeirão de mesmo nome.

Localizada no sudeste do Tocantins, na Região Turística das Serras Gerais, também é conhecida como a Cidade das Colinas, por estar em um vale e cercada por várias destas formações.

É a mais alta do Tocantins, com cerca de 722 metros de altitude, fazendo com que seu clima seja mais ameno, especialmente nas noites de junho e julho.

Seu centro histórico ainda preserva traços da arquitetura em estilo colonial português. Nos casarões mais antigos, encontram-se as iniciais dos patriarcas das famílias que as construíram e o ano de conclusão da obra.

Um deles, localizado na Praça Doutor João d’Abreu, guarda objetos de época e registros sobre a formação do município: o Museu Histórico e Cultural de Arraias.

 

Turismo

Riquezas naturais e culturais não faltam, como a Gruta da Fazenda Furnas e as trilhas que levam às ruínas da Chapada dos Negros e ao Morro da Cruz, um mirante com vista para todo o vale.

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Foto: Flavio Cavalera

O Turismo de Base Comunitária (TBC) também tem grande potencial de desenvolvimento nas comunidades remanescentes de quilombo, como Mimoso de Kalunga e Lagoa da Pedra.

Em Lagoa da Pedra, há Roda de São Gonçalo, uma tradição trazida pelos portugueses, em pagamento de promessas feitas ao santo. No ponto alto da festa, mulheres desfilam em pares, vestidas de branco, carregando arcos de madeira enfeitados com flores de papel e iluminados com pavios feitos de cera de abelha. Enquanto isso, os homens tocam viola e entoam versos em louvor a São Gonçalo, cuja imagem fica em um altar erguido próximo a um cruzeiro todo iluminado.

Roda de São Gonçalo em Lagoa da Pedra – Emerson Silva/Governo do Tocantins

Arraias é um dos oito municípios da Região Turística das Serras Gerais, que reúne cidades históricas famosas por suas festas folclóricas e religiosas herdadas do colonialismo e da era do ciclo do ouro. O turismo de natureza também é destaque, devido à grande quantidade de rios, cânions, cachoeiras, grutas e cavernas. Para quem se interessar em conhecer Arraias, a dica é fazer um circuito maior, visitando outras localidades da região.

 

Tradição

No Entrudo arraiano, jogar água nos brincantes é a diversão – Thiago Sá/Governo do Tocantins

Apesar dos atrativos naturais, os saberes e fazeres da população local são o grande destaque. Quem nunca ouviu falar na famosa Paçoca de Arraias?

Alimento dos sertanejos e viajantes, a paçoca tem uma longa história, iniciada com a ocupação portuguesa e que chegou aos dias de hoje como alimento tradicional do Tocantins, apesar de estar presente em outros estados.

A carne seca, cortada em cubos e frita em óleo quente, é socada no pilão (de preferência sem verniz), com alho picado e farinha de mandioca. As batidas ritmadas fazem com que a carne se desmanche e seu sabor seja assimilado pela farinha.

A produção arraiana conquistou fama antes mesmo do desmembramento dos estados de Goiás e Tocantins, com a apreciação do produto em feiras agropecuárias e outros eventos.

Também chama a atenção a produção artesanal, em especial as peças em argila branca, que é transformada em potes, panelas e objetos decorativos de cerâmica.

Já o seu carnaval preserva uma tradição quase extinta em outras regiões do país, o Entrudo, onde os brincantes jogam água uns nos outros enquanto percorrem as ruas da cidade animados por marchinhas carnavalescas tocadas por uma animada banda.

 

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Foto de Capa: Brasil Turismo