Agora são 7: Conheça o mais novo bioma brasileiro

Sistema Costeiro-Marinho foi incorporado ao mapa de biomas brasileiros pelo IBGE em 2019

Anna Júlia Steckelberg
Por Anna Júlia Steckelberg
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O mar quando quebra na praia é bonito, mas além de sua exuberância, ele também é riquíssimo em biodiversidade e por conta disso, em 2019 foi categorizado como um bioma exclusivo do Brasil: o Sistema Costeiro-Marinho. A partir de agora ele se junta aos outros seis biomas tupiniquins: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. 

Dos mangues do litoral amazônico às águas profundas e para além da plataforma continental, o sistema Costeiro-Marinho brasileiro tem uma variada biodiversidade distribuída por uma série de ecossistemas diferentes entre si, e não era acostumado a ser encarado como um bioma tal qual a Amazônia, Cerrado ou Caatinga. 

Mas, tanto por uma necessidade política de conversação quanto de categorização desse ambiente, isso mudou. O Sistema Costeiro-Marinho foi utilizado pelo IBGE para se referir a essa região no mapa de biomas publicado em 2019. 

Agora veja só, se considerado todo o território marítimo brasileiro, que extrapola a metodologia usada pelo IBGE, a área tem cerca de 4,5 milhões de km², o equivalente a mais da metade do território terrestre do Brasil.

Além disso, o sistema também inclui áreas no continente. São quase 195 mil km² de manguezais, restingas, praias arenosas, estuários, costões rochosos, entre outros ecossistemas que se sobrepõem a outros biomas, área maior que a do Pampa inteiro. Um manguezal em Alagoas, por exemplo, faz parte da Mata Atlântica e do sistema Costeiro-Marinho.

Os mangues, aliás, ilustram bem a necessidade do reconhecimento do novo bioma. “Faz total sentido ter esse bioma Marinho Costeiro. O manguezal, por exemplo, ficava num buraco. A Lei da Mata Atlântica garantia a conservação do ecossistema, mas a gente caía num probleminha, porque o manguezal também está na Caatinga e na costa amazônica”, diz Clemente Coelho Junior, professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE).

Por outro lado, é inegável que esse seja apenas um recorte do sistema Costeiro-Marinho, que envolve áreas bastante distintas. “O ambiente costeiro-marinho é enorme, rico, diverso e tem uma interface absurda com a parte terrestre”, afirma Otto Gadig, professor do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em São Vicente, litoral de São Paulo.

O Sistema Costeiro-Marinho é berço de espécies raras e muito importantes para o meio ambiente. É nele que moram tartarugas, algas, baleias e tubarões, que garantem o ciclo de vida e a biodiversidade do mundo. 

De lá para cá, houve melhoras na proteção do bioma Costeiro-Marinho como um todo. No início da década, apenas 1,5% do território marítimo brasileiro era protegido. Hoje, esse percentual aumentou para 26,3%, muito por conta de dois grandes mosaicos de preservação ao redor das ilhas de São Pedro e São Paulo, Trindade e Martim Vaz.

Isso não significa que seja possível baixar a guarda. O derramamento de óleo no litoral Nordeste do Brasil em 2019, um episódio ainda em investigação, é um exemplo das ameaças constantes sobre esse bioma ainda não tão conhecido como tal.

Para piorar, o Brasil assiste a um verdadeiro desmonte da sua legislação ambiental. No Espírito Santo, onde os mares quentes do norte e frios do sul se encontram para uma explosão de vida, há projetos de construção de portos praticamente a cada 30 km e não há estudos suficientes para avaliar o impacto das mudanças que esses empreendimentos podem causar.

Por enquanto, o mar continua bonito quando quebra na praia. Mas é preciso ter cuidado para que isto não vire apenas uma lembrança saudosa em uma música antiga.