A história não contada do Bolshoi Pub

Conheça a incrível e fascinante trajetória desse lugar que é um verdadeiro herói da resistência em Goiânia

Adelina Lima
Por Adelina Lima

Ponto de encontro do público goianiense, o Bolshoi Pub, localizado no Setor Bueno, tem muita história boa pra contar. Ao longo de 11 anos, a casa já recebeu ídolos da música nacional e internacional e já serviu de cupido para inúmeros casais. Promovendo experiências únicas para o público frequentador, o Bolshoi conquistou seu lugar na cidade e hoje é quase sinônimo de Goiânia.

Rodrigo Carrilho é o nome por trás de toda essa história. Apaixonado pela música desde a adolescência, ele levava os discos para a escola. No repertório, Bill Halley, Black Sabbath e companhia. Após estudar Educação Física, ele abriu uma academia, a Phisycal, no Setor Aeroporto). Mas o gosto pela música ainda o acompanhava. Antes do Bolshoi, Rodrigo teve duas casas noturnas. Na década de 1990, abriu a Suíte, na Praça do Cruzeiro, e a Bistrô, na Rua 90, Setor Sul de Goiânia, ambas com uma pegada underground. Empreendedor nato, chegou a quebrar até fazer as malas e partir para os Estados Unidos, onde trabalhou de pedreiro, assentador de piso – “Com muito orgulho”, faz questão de salientar. Quatro anos na terra do Tio Sam foram suficientes para embalar o sonho do próprio negócio, e ao retornar para Goiânia em 2003, uniu a vontade de criar algo que ele próprio frequentaria com a experiência da noite, acumulada nas duas pequenas casas noturnas.

E assim nasceu o Bolshoi Pub, há 11 anos. O nome vem do russo para “grande”, e é inspirado no balé de mesmo nome. “O Bolshoi foi acontecendo. Não nasceu com o formato pronto. Nasceu como um restaurante com música”. Mesmo sem nunca ter tocado nenhum instrumento musical, Rodrigo sempre teve um gosto pela música mais elaborada: no repertório pessoal, muito rock, jazz e blues, e a falta de opção pra curtir o estilo em Goiânia foi parte da motivação para abrir a casa. A vontade era montar algo com que se identificasse, “ter prazer com o trabalho”. E o Bolshoi é exatamente isso. Rodrigo também é frequentador assíduo das noites na casa, ainda que sempre a trabalho. Sua satisfação maior é ver o público satisfeito. “Meu prazer é de dar prazer para outras pessoas”, revela.

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Bolshoi Pub, uma das mais tradicionais casas de show de Goiânia.

Grande parte do público goianiense não sabe, mas o Bolshoi já trouxe verdadeiras lendas da música nacional e internacional para Goiânia. Nomes como The Doors, Nazareth, Johnny Winter e Focus já se apresentaram no palco da casa. “Várias vezes, o público não acreditava, pensava que era atração cover e hoje me orgulho de ter trazido nomes nunca antes imaginados nessa cidade”, Rodrigo revela. Ray Manzarek, tecladista do The Doors, se apresentou na casa em 2009 e chegou a comparar o Bolshoi com o Whisky a Go Go, lendária casa de shows de Los Angeles.

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Whisky a Go Go, casa de shows de Los Angeles.

O grupo escocês Nazareth, que se apresentou na casa em 2012, foi o responsável não só por um grande show, mas também pelo recorde de consumo de bebidas da casa em uma única noite: dez pessoas beberam 2 garrafas de vodca Ciroc, uma garrafa de uísque Black Label e 46 cervejas. Além de tudo isso, o vocalista Dan McCafferty bebeu sozinho uma garrafa do raríssimo conhaque St. Remy, que Rodrigo encontrou por acaso no Piquiras do Shopping Bougainville. Segundo ele, McCafferty não ficou nem tonto.

Nazareth toca “Sunshine” no Bolshoi Pub em 2012:

Outra ilustre presença que se apresentou no palco do Bolshoi foi Mike Stern, lendário guitarrista de jazz americano. Rodrigo assistiu uma apresentação do artista em Nova York e, um ano depois, trouxe o guitarrista pra cá.

Mas ele revela: “Todos os grandes shows deram prejuízo financeiro. O Nazareth, por exemplo, acostumado a tocar para estádios lotados, tocou para 150 pessoas aqui em Goiânia!” Apesar do desfalque financeiro, Rodrigo diz que queria realizar o sonho de ver seus ídolos de perto, tocando ao vivo aqui na capital. “Eu sabia se eu não trouxesse, nunca teríamos isso aqui na cidade!”

E continua: “Infelizmente essa época não volta mais. A alta do dólar, a dificuldade de patrocínio e o desinteresse do público de Goiânia em não prestigiar esses eventos, me fizeram desmotivar dos grandes investimentos e recorrentes prejuízos. Imagine trazer um The Platters ou um Mutantes para 100 pessoas? Isso me deixava envergonhado pela cidade. Não pela grana, mas pela falta de prestígio a oportunidades únicas que já tivemos aqui.” Segundo Rodrigo, momentos raros e valiosos para a vida cultural de Goiânia que aconteceram no Bolshoi passaram despercebidos pela mídia e pelo público. “The Doors, por exemplo, não saiu uma nota na imprensa goiana”, ele afirma.

Ray Manzarek & Robby Krieger of The Doors se apresentam no Bolshoi Pub em 2009:

Apesar de tudo isso, Rodrigo garante que não guarda mágoas e não tem do que reclamar. “O Bolshoi é um negócio de sucesso, consolidado. Faltou prestígio nos eventos de grande porte, mas em compensação a casa sempre contou com bom público nos eventos menores”. Para garantir o status de referência nacional e internacional como uma das melhores casas de show do mundo, Rodrigo pretende manter o padrão Bolshoi qualidade e sempre trazer novidades para o público local, ainda que com custos mais baixos. Marcelo Jeneci e Camisa de Vênus, por exemplo, já são atrações confirmadas para o mês de novembro de 2015, e a casa já negocia a gravação do DVD de Nasi, do Ira, e d’Os Irmãos do Blues.

Bolshoi

Este ano, Andy Summers, do The Police, dividiu o palco do Bolshoi com Rodrigo Santos, do Barão Vermelho.

Rodrigo, hoje com 47 anos, diz que apesar das atrações que que já passaram pela casa e pela relevância cultural que o Bolshoi tem para Goiânia e para o cenário musical em todo o país, ele se orgulha do “lado cupido” da casa. Ele afirma que “Centenas de casais se encontraram aqui e hoje formam famílias. Há cerca de dois anos, houve uma festa organizada pelo próprio público em redes sociais de casais que se conheceram no Bolshoi. Resultado: casa lotada!”. Não e à toa: como o próprio Rodrigo deixa claro, “a atmosfera da casa é perfeita para promover encontros. A decoração, o ambiente, a música, o perfil do público, tudo contribui para bons encontros”. Rodrigo tem uma curiosidade e aproveita o espaço para perguntar diretamente aos clientes: “Gostaria de saber quantas pessoas, de fato, se conheceram no Bolshoi”.

Festa

A festa “Tô nos 30” é uma das mais tradicionais e sempre lota a casa. O ambiente é perfeito para paquerar.

E tem novidade vindo por aí: em fevereiro de 2016, o novo Bolshoi contará com um café com piano bar e cervejas especiais em anexo no mesmo endereço, inclusive com espaço para stand-up comedy. Além disso, o Bolshoi vai abrir uma unidade na capital federal: o Bolshoi Brasília funcionará no Pontão do Lago Sul. “O projeto já está aprovado e a previsão é que até o final de 2016 a melhor casa do Brasil já esteja funcionando na capital federal”.

A expansão não tem nada a ver com o fechamento da casa aqui em Goiânia, já que o plano de Rodrigo, e do Bolshoi “é sobreviver nessa crise”. Vida longa aos dois.