21 expressões racistas que você usa e que precisam sair do seu vocabulário

Denegrir, criado mudo e meia tigela. Você pode até não ver nada de errado, mas o racismo estrutural vai te mostrar a verdadeira origem delas! Vamos tirar o racismo do seu vocabulário?

Redação Curta Mais
Por Redação Curta Mais
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Mulata, cabelo pixaim e ovelha negra não são termos tão legais assim de serem falados por aí. Na verdade, não tem nada de legal nisso. São expressões que fazem parte de um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutidas em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. 

Falas e hábitos pejorativos incorporados ao nosso cotidiano tendem a reforçar essa forma de racismo, visto que, promovem a exclusão e o preconceito mesmo que indiretamente.

A palavra racismo nasceu no século 20, mas ele existe muito antes disso. Antes, ele era normalizado e existiam até leis separativistas na sociedade. Os tempos mudaram, mas alguns hábitos e termos racistas perpetuaram com o passar dos anos e se encontram presentes até hoje na sociedade. Não a toa, o Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão.

Segundo Aluíso Black, presidente do Centro de Cidadania Negra do Estado de Goiás (CENEG-Goiás), devemos estimular o conhecimento das mazelas dessas expressões a fim de aniquilá-las do nosso cotidiano. “As expressões preconceituosas precisam ser banidas do vocabulário da nossa sociedade contemporânea“, diz.

No Brasil, cerca de 75,5% das vítimas de homicídio são negras, maior proporção da última década. A desigualdade social e o racismo estrutural ajudam a compor estes números. “As pessoas precisam entender que o racismo é um câncer que precisa ser extinto, pois cada dia que passa vidas são perdidas com essa prática“, desabafa.

Para Aluíso, para atos racistas não existe resposta a não ser judicialmente: “Não tem diálogo, tem a lei. É crime“.

FBI, CIA, comerciante e “Raul”: as teorias sobre a morte de Luther ...Martin Luther King Jr., um dos principais líderes negros na luta contra a discriminação racial nos EUA

O racismo estrutural no Brasil ainda é um mal a ser combatido. Você pode não perceber, mas com certeza você já usou algum termo racista e mal sabe o que ele significa. Tirá-los do nosso cotidiano e entender suas consequências, é uma simples tarefa que pode ajudar a mudar uma luta contra a discriminação racial.

E não basta não ser racista, é preciso ser antirracista e corrigir alguém ver alguma dessas expressões abaixo:

1. Adjetivar cabelos como ruim/pixaim/duro/de bombril, entre outros

São falas racistas mais usadas, principalmente na fase da infância, pelos colegas, no entanto elas se perpetuam até a vida adulta. Falar mal das características dos cabelos Afro também é racismo!

2. Mulata

A palavra se refere à mula, um animal do cruzamento de burro com égua. Na época da escravidão, muitas escravas eram abusadas pelos patrões e acabavam engravidando. As crianças eram chamadas de mulatas por serem filhos de um homem branco com uma mulher negra. Além disso, o termo objetifica ainda mais o corpo da mulher negra como uma mercadoria.

3. Denegrir

Utilizado para dizer que algo está sendo difamado por outra pessoa, mas segundo os dicionários, ‘denegrir’ significa ‘escurecer, tonar negro’, o que a torna extremamente racista.

grayscale photography of manFoto: Julian Myles/Unsplash

4. Mercado negro, lista negra, ovelha negra, entre outros.

Todas as vezes que alguém quer dizer que algo é ruim, usam o negro, como se representasse algo perjorativo, prejudicial, ilegal, etc.

5. ‘Não sou tuas negas’

Essa não precisa de muita explicação. Ela remete às mulheres negras escravizadas que sofriam estupros recorrentes de seus patrões. A frase implica que com as ‘nega’ pode tudo, são qualquer uma, etc.

6. ‘Nego’

Essa depende do contexto em que ela for introduzida. Como por exemplo alguém estar irritado com algo que outra pessoa falou e soltar um ‘Pra nego vir e falar isso, nao concordo’, inserindo o ‘nêgo’ como alguem que não tem voz ali, sua opinião não importa, entre outros.

selective focus photography of woman taking selfieFoto: Tess/Unsplash

7. Ter um ‘pé na cozinha’

A frase era usada para se referir às pessoas que não eram nem brancas e nem pretas, mas ‘pardas’. No século 18, a casa de famílias brancas tinham escravas trabalhando como cozinheiras e, muitas vezes, elas eram assediadas e estupradas por seus senhores, sendo comum que elas tivessem filhos da pele mais clara.

8. Barriga suja

Esse termo era utilizado para chamar as grávidas de filhos negros. É uma das falas mais desprezíveis.

9. Da cor do pecado

Apesar de ser usada como elogio, a origem da expressão não tem nada de bonito. Antigamente, ser negro, era considerado um pecado. Chamar alguém de ‘da cor do pecado’ faz alusão à pele negra como algo ruim.

grayscale photo of woman with curly hairFoto: Johnathan Kaufman / Unsplash

10. Fazer nas coxas

Durante a escravidão, os escravos moldavam as telhas em suas coxas, por conta disso elas possuem o formato de hoje. Como eles tinham corpos de diferentes formatos, as telhas não se encaixavam e, por isso, estariam ‘mal feitas’.

11. Criado Mudo

Essa vai pegar muitas de surpresa, mas acredite, a origem deste nome não é nada agradável. Uma das tarefas de escravos empregados, era a de segurar as coisas para seus senhoras. Estes, eram chamados de criados. Como eles não podiam falar, eram chamados de criados mudos.

12. Doméstica

A origem da palavra vem de domesticar escravos ou animais de estimação. Eles eram tratados igual animal: punições e até tortura para ‘domesticar’ os escravos. 

Civil rights march on Washington, D.CFoto: Library of Congress/Unsplash

13. Inveja branca

Na contramão de tudo que foi falado anteriormente, a ‘inveja branca’ significa uma inveja que não faz mal, ou seja, associando à cor branca a coisa boa.

14. ‘Amanhã é dia de branco’ – ‘Amanhã é dia de preto’

Os dois termos se referem a pessoas que vão trabalhar no dia seguinte. Porém o ‘branco’ se refere a um trabalho normal e o preto se refere a um trabalho duro, que exige muito desgaste, fazendo alusão aos escravos.

15. Serviço de preto

No século 19 os escravos eram considerados “burros e preguiçosos”, ou seja, não desempenhavam boas funções. Hoje, algumas pessoas usam esse termo para tarefas mal feitas, sendo uma expressão de cunho racista.

10a6da0e146df30621f6f38a694b6cb9.jpgFoto: Agência Brasil

16. Estampa étnica

No mundo da moda, os desenhos da África considerados ‘exóticos’ nas roupas passaram a ser chamados de ‘estampa étnica’ para generalizar a estamparia de origem africana, uma visão eurocêntrica em relação à outras regiões. Essas estampas tem nomes: kilim, Dutch Wax, Batik, entre outros. Usar o termo estampa étnica só significa dizer que ela foi criada por um grupo que compartilha as mesmas culturas e tradições.

17. ‘A dar com pau’

Os escravos dos navios negreiros preferiam morrer a embarcar, por conta disso realizavam greve de fome durante a travessia entre os continentes. Para obrigá-los a se alimentar, um ‘pau de comer’ foi criado para jogar angu, sopa e outras comidas pela boca. E foi aí que nasceu a expressão.

Os Cinco do Central Park - Philos.tvCena do julgamento dos ‘5 do Central Park’, onde cinco adolescentes e crianças negras são injustamente condenados pelo estupro em 1989 de uma mulher em Nova York

18. Meia tigela

Usada para caracterizar alguém ou algo que não é bom o suficiente para executar alguma tarefa, a expressão “meia tigela” vem de um sistema usado na monarquia portuguesa. Naquela época, os empregados recebiam sua alimentação dos patrões de acordo com a qualidade do serviço que faziam. Aquele que se saía melhor ganhava uma tigela cheia de comida. Porém, quem apresentava um trabalho mal feito, ganhava apenas meia tigela de comida. O mesmo aconteceu na escravidão.

19. Samba do crioulo doido

Título do samba que satirizava o ensino de História do Brasil nas escolas do país nos tempos da ditadura, composto por Sérgio Portp. Porém, a expressão debochada, que significa confusão ou trapalhada, reafirma um estereótipo e a discriminação aos negros.

20. Moreno(a)

Pessoas acreditam que chamar algum negro de negro, é ofensivo. Ofensivo é pensar que negro é ofensa. Mas isso vai de região para região, nos EUA é extremamente racista chamar por ‘negro’, a não ser que você seja um. Por conta disso, as pessoas usam ‘moreno’, o que é totalmente fora de contexto, como se amenizasse um incomodo. Mas o ideal é saber como o(a) negro(a) se sente em relação a isso. Racistas acreditam que chamar alguém de negro é ofensivo. Falar de outra forma, como “morena” ou “mulata”, embranquecendo a pessoa, “amenizaria” o “incômodo”.

21. ‘Negro(a) de traços finos’

É um olhar eurocêntrico aos negros. Se nao tivesse os traços finos, não seria bonito(a)? Não parece, mas é racismo.

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Fontes: Geledes, Acida Deon, Carta Capital, Gaúcha CH e o Curta Mais também entrou em contato com militantes negros para verificar o uso correto das expressões, além do próprio presidente do Centro de Cidadania de Goiás.