Conheça o primeiro museu Transgênero de História e Arte do Brasil

Muito se fala sobre a visibilidade trans, mas o Brasil ainda caminha lentamente para dar o espaço e garantir os direitos das populações trans, travestis e não binárias. No mundo das artes, mais um passo foi dado em direção a essas conquistas, chegou o momento desta comunidade ganhar um pouco mais de representatividade e divulgação. Nesse contexto nasceu o  MUTHA: Museu Transgênero de História e Arte.

 

O MUTHA é o primeiro museu do Brasil, e um dos poucos da América Latina, destinado à divulgação exclusiva de obras artísticas da população trans, travesti e não binária. O portal da instituição será inaugurado em julho de 2021, com a maior exposição brasileira de artes trans realizada até hoje no país! Ao todo, já são  mais de 300 pessoas, dentre artistas, organizadores e colaboradores, envolvidas no projeto.

Mas enquanto o portal ainda não está pronto e disponível, já é possível acessar o site do museu e conferir a primeira exposição artística na Galeria Virtual MUTHA, um local criado para exposição permanente. Nessa mostra inaugural, estão presentes trabalhos de mais de 56 artistas trans. São artistas das cinco regiões do Brasil, além de estrangeiros que vivem no país, ou brasileiros residentes no exterior, Dessa maneira, a primeira exposição do museu online faz conexão com seis países espalhados por quatro continentes.

 

A mostra tem dois temas centrais: “Transespécie”, que propõem a quebra dos conceitos pré existentes de espécie e de gênero, propondo a criação de novos seres e mundos, um vez que, espécies podem ser vistas como tentativas de atribuições de idéias e sentidos para aspectos, formas, aparências e para o que está em campos de percepção. E “Transjardinagem”, que estabelece uma espécie de jardinagem para resgatar memórias dos danos causados por séculos de destruição impostas aos corpos, propondo um movimento de jardinagem partindo de “paisagens corporais catastróficas”. 

Dentro da categoria Transespécies, o  acervo traz obras da artista Safira Clausberg, resultado de suas próprias emoções, dores e desejos. Acadêmica de teatro, pedagoga em formação, musicista, estilista e modelo,  a artista se define ainda como  afroreligiosa, afrofuturista e afrogótica, sereia do asfalta e rainha do luar. “Eu só posso acreditar em alguém que acredita em mim, faço de minhas performances o culto a minha entidade, a SAFIRA é minha religião!”, declarou a artista em sua biografia disponível na plataforma oficial do MUTHA.

Obra

Foto: “Ser humano não humanizado” fotoperformance da artista Safira Clausberg disponível na galeria virtual do MUTHA

Já na categoria Transjardinagem, dentre os inúmeros artistas contemplados, estão as obras de Läz Raphaellie, arquiteta urbanista pela Universidade Federal de Ouro Preto. Atua como Artista Visual e Pesquisadora em Decolonialidade, sendo que suas pesquisas e produções unem as relações entre corpo e cidade pelo viés da etnia-gênero-classe. Seu foco é o estudo das experiências e traumas registrados nos corpos generificados no contexto da Diáspora Afrobrasileira. Läz considera-se contra-arquiteta e des-urbanista, além de Artista Educadora Decolonial. É negra e travesti, e desenvolve desde 2015 trabalhos dentro da linguagem das artes visuais.

Obra

Foto: “Bula rizomática: cartografias de corpos negros-bichas no contexto de ouro preto” obra da artista Läz Raphaellie disponível na galeria virtual do MUTHA

No país mais perigoso para transexuais no mundo, a exposição procura fortalecer as redes culturais e de produção, aumentar o mercado de trabalho para a população trans e a venda de obras de arte. O MUTHA é um espaço virtual e nacional, criado pelo pesquisador, artista e autor trans Ian Habib. Segundo o idealizador da iniciativa, a colaboração de toda a comunidade é extremamente importante na formação de redes de apoio, fomento institucional e na construção de um arquivo e de empregabilidade.

 

 

Busca no Google sobre transexualidade e feminismo cresce 200% no Brasil

O Brasil tem muitas diferenças sociais e culturais e isso é refletido no modo como cada brasileiro se comporta na internet. E tem aumentado o interesse por temas ligados a diversidade. Estudo divulgado no dia 23 de outubro pelo Google BrandLab mostrou que, de 2012 a 2017, as buscas por temas sobre homofobia, LGBT, racismo e feminismo aumentou 260% só nos últimos seis meses.

Um dos temas que ganharam maior destaque nas pesquisas ao longo deste ano foi Transgênero. A busca pelo termo cresceu 123% no último ano. Entre os motivos dessa audiência se deve a novela da Globo “A Força do Querer” que retratou essa temática com a personagem “Ivana”, e também na música com o sucesso da cantora Pabllo Vittar.

Já o interesse pelo feminismo tem crescido gradualmente ano após ano. De 2015 pra cá, o número de buscas no Google aumentou 200%, chegando bem próximo ao de buscas por racismo, tema de maior interesse para os brasileiros. Inclusive, as buscas por feminismo negro também cresceram 65% nos últimos 12 meses.

 

Foto: Laílson Santos/VEJA