Não é de hoje que celular virou uma mão na roda para quem tem criança e busca uns minutinhos de sossego recorrendo ao enorme volume de conteúdo disponível no YouTube, maior plataforma de compartilhamento de vídeos do mundo. Mas o perigo pode estar mais perto do que muita gente imagina.
O simples ato de deixar o celular na mão de uma criança sem o acompanhamento de um adulto, pode ser uma porta de entrada para uma série de conteúdos impróprios que são produzidos estrategicamente para atrair atenção das crianças entre um vídeo e outro.
“Passei a perceber que meu filho de 2 anos começou a ter medo de escuro e falar que estava vendo ‘um bicho’ sempre que ia para cama ou ficava alguns instantes sozinhos. A mudança ocorreu dias após deixarmos ele assistir alguns desenhos da Peppa no canal oficial. Como o YouTube é muito intuitivo e a geração de hoje já nasce conectada, ele rapidamente aprendeu a selecionar outros desenhos com o dedinho. Comecei a assistir junto com ele e vi que a origem do medo dele vinha de vários vídeos cheios de ‘bichos’ editados em cima dos desenhos originais”, conta um pai ouvido pelo Curta Mais que pediu para não ser identificado. Imediatamente ele proibiu a criança de ficar com o celular sozinha e tem investido mais tempo com brincadeiras ao ar livre com o filho. “É claro que o esforço em deixar as crianças longe de uma tela é enorme em tempos de tanta conectividade virtual, mas é fundamental para a saúde mental e desenvolvimento físico nessa fase”, afirma.
Fizemos o teste para entender melhor como funciona o algoritmo do YouTube nesses casos e nos deparamos com vídeos fakes que se misturam no meio de conteúdos originais. Por exemplo, mesmo se o usuário estiver em canais oficiais, com desenhos originais como os da Peppa, Masha e o Urso, Pocoyo ou Patrulha Canina, vídeos correlacionados com as mesmas tags (palavras chaves) dos personagens, podem aparecer misturados entre outras sugestões de vídeos do próprio YouTube. O problema é que parte desse conteúdo é falso e o material é editado em cima dos desenhos originais com vários tipos de mensagens subliminares criadas para assustar crianças ou até mesmo direcioná-las para outros sites e ambientes virtuais por meio de hiperlinks.
Em nossa pesquisa, flagramos figuras editadas de fantasmas, zumbis, sombras de monstros, em meio a desenhos editados da Peppa, Masha Pocoyo e outros famosos personagens infantis, como mostram os prints abaixo.
A dica de profissionais é sempre substituir o celular ou a TV por brincadeiras educativas e o contato com a natureza e outros coleguinhas. “Dá mais trabalho mas o esforço vale a pena para o desenvolvimento cognitivo. É a fase que a criança aprende tudo, de bom e de ruim, por isso a importância de oferecer conteúdos que ajudem em um crescimento saudável. Nessa fase, a criança aprende tudo muito rápido e assim, com estímulos saudáveis, criamos cidadãos melhores no futuro”, afirma a psicóloga Larissa Azzi.
Curta Mais entrou em contato com o YouTube para saber quais as medidas que a empresa tem desenvolvido para evitar esse tipo de conteúdo na plataforma, mas até o fechamento da matéria, não recebemos retorno.