Experimente como funciona o projeto que torna imagens acessíveis para cegos

A inclusão digital de pessoas com necessidades especiais é um requisito fundamental para diminuir as desigualdades sociais que existem em nossa sociedade. Foi pensando em uma forma de minimizar tais desigualdades, que surgiu o projeto “Pra cego ver”, cujo principal objetivo é facilitar a compreensão de conteúdos virtuais por deficientes visuais. De que maneira? Acompanhe nossa matéria para descobrir e, ao final, experimente como funciona esta forma de levar imagens até pessoas que não poderiam absorver o conteúdo visual sem a ajuda de pessoas que fossem seus guias.
Para início de conversa, é importante ressaltar que o termo “pra cego ver” não é considerado ofensivo pelos portadores de deficiências visuais, até porque jamais ele é utilizado de forma pejorativa. O que é considerado ofensivo pelos cegos é a falta de acessibilidade que todos eles têm que enfrentar diariamente.
Mas, afinal de contas, o que é o “Pra cego ver”? Trata-se de um projeto de disseminação da cultura da acessibilidade nas redes sociais e utiliza como base a Audiodescrição de imagens para a apreciação das pessoas com deficiência visual. Tal projeto foi idealizado pela professora baiana Patrícia Braille e ajuda não somente cegos, como também pessoas com dislexia, deficiência intelectual ou com déficit de atenção.
A importância de tal projeto é clara se levarmos em conta que, atualmente, existem cerca de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual no Brasil, sendo 585 mil totalmente cegas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), este número pode chegar aos 75 milhões em 2020, em todo o globo. Mas você sabe o que é a audiodescrição?
A audiodescrição consiste em transformar imagens em palavras, seguindo critérios de acessibilidade e respeitando as características próprios de seu público consumidor. Qualquer tipo de imagem pode ser audiodescrita, desde que se haja uma boa capacidade descritiva e cuidado na hora de escolher as palavras. Mas como essas descrições, na maior parte das vezes somente escritas, tornam-se áudios para que os deficientes possam usufruir de seu conteúdo?
Para realizar a conversão de material escrito em áudio, existem programas específicos capazes de ler a tela e narrar o conteúdo para os deficientes. Mas, para que isso realmente funcione, é preciso que mais e mais páginas e usuários virtuais adotem a prática de descrever suas imagens para este tipo de público.
Nesta matéria – e na experiência que lhe propomos mais abaixo, buscaremos nos colocar no lugar do outro. Já imaginou se todas as imagens que você vê nesta matéria ( e também em todas as postagens em redes sociais) fossem invisíveis aos seus olhos? O termo “cego pra ver” diz respeito aos deficientes visuais, mas também é sobre os não deficientes que são incapazes de enxergar as dificuldades dos outros.

 

Como produzir um conteúdo audiodescritivo?

Em primeiro lugar, não se esqueça de utilizar a hashtag #pracegover, pois será assim que este público encontrará seu conteúdo nas redes sociais. Feito isso, anuncie que tipo de imagem você irá descrever: se será uma fotografia, um cartum, uma ilustração, etc. Após esses cuidados, siga as indicações abaixo:
-Descreva a imagem da esquerda para a direita, de cima para baixo, assim como é a ordem natural de escrita e leitura ocidentais;
-Dê as informações sobre cores, especialmente se é uma foto em preto e branco ou sépia;
-Crie uma sequência lógica, descrevendo cada elemento por vez; seguindo e criando uma ordem lógica;
-Procure utilizar períodos curtos, para evitar delongas;
-Seja criativo! Quanto mais detalhado, melhor!

 

Se quiser saber mais sobre aplicativos que podem ajudar deficientes físicos, cheque esta matéria!

 

Experimentando!

Propomos agora um desafio! Você é capaz de se colocar no lugar do outro e sentir qual seria sua reação em semelhante situação? Se sim, seja sincero em nosso teste e veja como se sentiu. Você pode utilizar algum aplicativo de transformação de texto em áudio, disponível em diversas plataformas de vendas de aplicativos, ou então somente ler os textos que se seguem e, antes de olhar as imagens as quais se referem as descrições, observar se o que você imaginou em sua mente realmente corresponde ao que está nas fotos. Para este teste, selecionamos imagens de nosso querido estado. As imagens descritas estão no final desta matéria. Apenas observe-as após tentar recriá-las mentalmente utilizando como base as descrições.

 

1 | Poço Azul, em Mambaí, no Nordeste Goiano;

#pracegover
Fotografia colorida;
Uma parede natural formada por rochas em tons ora acinzentados, ora levemente marrons, com a presença de plantas verdes crescendo em algumas partes de sua extensão, que vai até o final do canto direito da foto. Há também raízes de árvores que descem pela parede de pedras, mas em menor número que as plantas. No lado direito da fotografia, descem por esta parede duas cascatas de tamanho médio de água cristalina. Abaixo da parede de pedras está um lago azul esverdeado, que contém pequenas ondulações e poucas, mas visíveis, folhas secas flutuando. Na parte inferior da foto, o fundo do poço aparece suavemente, revelando pedras marrons de variados tamanhos submersas. Uma mulher jovem usando trajes de banho e com cabelos claros, está de pé sobre as pedras submersas e dentro do rio, com a água batendo na altura de sua cintura. Ela parece estar pronta para mergulhar no poço.

 

2 | Ipê amarelo;

#pracegover
Fotografia colorida;
No topo da fotografia, observa-se o céu na cor azul celeste, mas em tons não muito vibrantes. Abaixo, as copas de duas frondosas árvores aparecem. Uma delas, bem do lado esquerdo superior da foto, tem um verde intenso e parece existir há muitos anos, devido sua dimensão. Ao lado dela, porém mais à frente, está uma árvore completamente florida em tom amarelo. Toda sua composição é feita de flores amarelas em tons quase fluorescentes, de tão vívidos! Do lado direito da foto, avista-se ao longe a paisagem formada por campos que intercalam plantações em tons verdes e campos secos, além de outras árvores com galhos finos e poucas folhas. Na parte inferior da foto e passando rente ao Ipê Amarelo, observamos uma cerca com madeiras descendo pelo campo e dividindo a cena. Cada flor amarela da árvore central assemelha-se a um pequeno buquê que, juntos, formam o aglomerado de toda a frondosa árvore.

 

3 | Monumento das 3 raças, na praça cívica de Goiânia.

#pracegover
Fotografia colorida;
O céu azul celeste ocupa toda parte superior da foto, tornando-se mais claro à medida que desce. Há um enorme poste de concreto cinza e fino que sobre pelo lado esquerdo da foto. Do lado direito, ao fundo da foto, pedaços de imagens de três prédios residenciais aparecem. Abaixo do céu, copas de árvores verdes cruzam horizontalmente a fotografia, mas, do lado esquerdo, as copas estão amareladas devido à luz do sol que incide diretamente sobre elas. No centro da foto, começando de sua base e ascendendo até a parte superior, está o Monumento das Três Raças. Tal obra é composta por três esculturas grandes de homens segurando uma escultura de pedra acinzentada com o dobro de seus tamanhos. As três esculturas em tons negros representam as três raças e estão segurando o bloco de pedra como se estivessem levantando-o.

 

Curiosidade

O texto a seguir foi extraído do blog “Palavra-chave online” e fica como uma reflexão para encerrar esta matéria.

“#PraCegover é um trocadilho. Como esta hashtag tem uma função educativa e inclusiva, ela se refere aos videntes que não enxergam o cego e nunca se dão conta de que pessoas com deficiência visual usam redes sociais. Ela existe para impactar, para despertar o olhar de quem lê e se pergunta: “Ué, pra que raios esta descrição está aqui?”. Então vai pesquisar mais um pouco e… Zaz! Mais um vidente deixou de ser “cego”. Existe, principalmente, para o cego ou pessoa com deficiência visual/baixa visão que, pela falta de acessibilidade, não podia apreciar as imagens publicadas.”

 

Esperamos que você, após a leitura desta matéria, também tenha deixado de ser um “vidente cego” e possa se lembrar de como a inclusão é capaz de mudar vidas.

 

Fotos descritas

Veja a seguir as fotos que foram descritas nesta matéria. E então, conseguiu “vê-las” mesmo sem enxergá-las?

1 | Poço Azul, em Mambaí, no Nordeste Goiano;

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Foto: Google.

2 | Ipê amarelo;

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Foto: Pinterest.

3 | Monumento das 3 raças, na praça cívica de Goiânia.

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Foto: Divulgação/Prefeitura de Goiânia.

 

#Pracegover

Fotografia

Na foto de capa, foco nos dedos de indivíduo de pele clara lendo um livro de cor branca em braile.