Crítica: A Mulher na Janela tem enredo bom, mas não surpreende
O filme, que deveria ser lançado em outubro de 2019 nos cinemas, chegou à plataforma Netflix na última quinta-feira (13), para a alegria de muitos fãs apaixonados por histórias de suspense. O longa, baseado no grande sucesso do livro que leva o mesmo nome, escrito pelo autor A. J. Finn, conta a história de uma mulher agorafóbica que passa os dias observando seus vizinhos e dentro de sua casa presencia um assassinato cercado de mistérios e reviravoltas.
Entretanto, as expectativas que eram tão aguardadas pelo público não se tornam satisfatórias. Como todo bom início, a trama ambientaliza o telespectador ao filme, principalmente no problema relatado pela protagonista. A psicóloga Anna Fox, interpretada pela atriz Amy Adams, sofre de agorafobia, transtorno de ansiedade que faz o indivíduo evitar lugares externos e situações públicas que possam causar sensação de pânico, medo, impotência ou constrangimento. O fato é contextualizado pela personagem e o próprio roteiro já expõe as vivências que é conciliada por remédios, alucinações e métodos de segurança estabelecidos por ela dentro e fora de casa.
Porém, no momento em que o longa parece prometer um suspense psicológico intrigante, uma sucessão de eventos clichês surgem e desembocam em um erro injustificável. Por apresentar uma protagonista já confusa sem um comportamento verossímil, e logo aplicar acontecimentos duvidosos e torná-los motivos centrais, o público não consegue criar uma empatia e estabelecer argumentos que a fazem acreditar na personagem principal. Com isso, toda reviravolta que acontece durante o longa se torna irrelevante e faz com que esperemos por um final que não é tão instigado, e que de certa forma, pareceu duvidoso.
E estes sentimentos redobram ainda mais no público já acostumado com este gênero de outros filmes, e que consequentemente, acabam prevendo alguns possíveis acontecimentos na trama e se decepcionando com os efeitos visuais. Contudo, o talento de Amy Adams, que era uma outra expectativa tão aguardada, se torna espetacular e necessário em cada cena do longa-metragem. Comparada com o seu último trabalho da mesma produção ‘Era Uma Vez Um Sonho’ (2020), a atriz se encontra irreconhecível e mostra sua habilidade e talento supremo em encarar papéis dramáticos.
A justificativa sobre a qualidade do enredo consiste em muitas revisões de roteiro que foram feitas, refilmagens e interferências de estúdio durante sua produção. Além da compra feita pela Netflix ocorrida em 2020, outras mudanças foram acatadas e isso pode ter comprometido a versão original dirigido pelo Joe Wright – mesmo diretor de Orgulho e Preconceito – e escrita pela roteirista Tracy Letts, responsável pelos filmes ‘Killer Joe – Matador de Aluguel’ (2011) e ‘Álbum de Família’ (2013).
Foto: Netflix/Reprodução
Mas o filme se torna um ótimo aperitivo para quem gosta dos trabalhos de Amy Adams ou do gênero de suspense psicológico. A duração do filme é de aproximadamente 100 minutos e consegue envolver o telespectador por todo tempo, por causa de sua direção ligeira que evita momentos tediosos e podem dispersar o público.
Por fim, vale destacar a única e brilhante cena em que Amy Adams e Julianne Moore se contracenam. Além de cada segundo ter uma importância elevada, a cena é o pontapé inicial para o assunto central do longa, sem contar as interpretações feitas pelas atrizes que são de tirar o fôlego. Outro ponto, é a menção feita nos primeiros minutos ao produtor cinematográfico e grande inspirador deste longa, Alfred Hitchcock. No início, cenas do filme ‘Janela Indiscreta’ (1954) aparecem no suspense deixando o público ciente que filmes deste gênero é uma grande paixão da personagem e também do diretor de produção.
Foto: Netflix/Divulgação