Primeiro híbrido de humano com macaco é desenvolvido por cientistas na China

Os cientistas conseguiram chegar em um ser 50% humano e 50% macaco. O resultado da pesquisa abre espaço para um debate internacional polêmico sobre alteração genética

Tainá Luíza Barreto Marques
Por Tainá Luíza Barreto Marques
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Sob a liderança do pesquisador Juan Carlos Izpisúa, uma equipe de cientistas espanhóis conseguiram criar o primeiro ser híbrido do mundo, em um laboratório na China. Esta quimera cientifica é 50% humano e 50% macaco e coloca em pauta um debate polêmico sobre alterações genéticas.

Na mitologia grega, quimeras são criaturas com cabeça de leão, corpo de cabra e cabeça de serpente, que são capazes de cuspir fogo. A partir disso, os resultados de experimentos que combinam dois ou mais tipos de DNA são chamados de quimeras cientificas. No caso do experimento, o resultado foi uma quimera de macaco.

Em 2017, uma equipe também liderada por Izpisúa, desenvolveu embriões de quimeras de camundongos com ratos a partir da técnica de edição genética CRISPR (Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas). No estudo recente, os cientistas utilizaram a mesma técnica com o objetivo de modificar geneticamente os embriões de macacos para desativar genes essenciais na formação de seus orgãos, em seguida injetaram células humanas capazes de gerar qualquer tipo de tecido.

O resultado da pesquisa foi animador, segundo os cientistas, mas para evitar entraves éticos, a gestação do híbrido foi interrompida aos 14 dias, tempo insuficiente para que se desenvolva o sistema nervoso central humano. A pesquisa está sendo parcialmente financiada pela Universidade Católica de Múrcia, mas sendo realizada na China, pois as leis da Espanha poderiam atravancar o estudo. 

Segundo Estrella Núñez, vice-reitora da Universidade que financia o projeto, o objetivo final das pesquisas é transformar animais de outras espécies em uma espécie de fábricas de órgãos para transplantes humanos. Os autores não deram mais muitos detalhes sobre os resultados, já que pretendem publicá-los em uma revista científica de prestígio. 

O médico Ángel Raya, diretor do Centro de Medicina Regenerativa de Barcelona, recorda as “barreiras éticas” que experiências com quimeras enfrentam. “O que acontece se as células-tronco escapam e formam neurônios humanos no cérebro do animal? Terá consciência? E o que ocorre se estas células pluripotentes se diferenciarem em espermatozoides?”, exemplifica Raya. Estrella Núñez afirma que a equipe habilitou mecanismos para que as células humanas se autodestruam caso migrem para o cérebro.

Vale lembrar que a primeira quimera científica foi desenvolvida em 2010, pelo biólogo japonês Hiromitsu Nakauchi, que fez experimentos entre camundongos e ratos.  Hiromitsu acredita que em algum momento teremos que pular as linhas vermelhas que existiram até agora, como a interrupção da gravidez. Esta realidade está cada vez mais próxima já que o Japão mudou recentemente a lei que proibia esse tipo de experimentos para além do 14º dia de gestação e que também vetava a transferência de embriões para o útero de uma fêmea animal. A mudança de critérios do Governo japonês significa dar luz verde ao nascimento de animais com células humanas.

Em 26 de julho deste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) se posicionou contra as técnicas de alterações genéticas em humanos, tais como a CRISPR.  Qual a sua opinião sobre este debate polêmico?

Foto: INSTITUTO SALK / EMBRIÃO DE CAMUNDONGO COM CÉLULAS DE RATO NO CORAÇÃO