Primeira professora portadora de Síndrome de Down no Brasil dá exemplo de força e persistência contra preconceito

Temos que lutar contra o preconceito todos os dias, diz a professora que atua na área há 13 anos

Júlia Marreto
Por Júlia Marreto
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Em 2006, a Organização das Nações Unidas (ONU) estableceu oficialmente o dia 21 de março como o Dia Internacional da Síndrome de Down. No Brasil, Débora Seabra (36) foi a primeira pessoa com síndrome de down a se formar professora.

Aos 20 anos ela decidiu que seguiria carreira na área de educação. Quando terminou o ensino médio, a jovem ingressou no curso de magistério (de nível médio), na Escola Estadual Prof. Luiz Antônio, finalizando em 2005.

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Imagem: Reprodução/Camara.leg

A jovem potiguar, em entrevista ao periódico Tribuna do Norte contou um pouco da sua história e das dificuldades causadas pela falta de informação e preconceito das pessoas:

Como você decidiu ingressar nessa área?

Eu já tinha tentado várias coisas antes. Vendedora, recepcionista, fiz vários estágios. Mas aí comecei um estágio no CIC [Colégio Imaculada Conceição], e vi que era isso que eu queria. Trabalhar com crianças. Eu ensino elas o respeito, a inclusão. Gosto muito do que faço. E, com isso, consigo continuar a luta pela inclusão das pessoas com deficiência. Porque tem que mudar o pensamento, tem que lutar contra o preconceito todos os dias.

 

A PROFISSIONAL

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Imagem: Reprodução/Tribuna do Norte

Débora trabalha como professora auxiliar em uma escola particular de Natal (RN) há 13 anos. Também é autora do livro Débora Conta Histórias (Alfaguara Brasil, 2013). Em 2015, recebeu o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação, em Brasília, por ser considera exemplo no desenvolvimento de ações educativas no país.

 

A SÍNDROME

Se trata de uma anomalia genética no cromossomo 21. Durante o processo de meiose [divisão das células especializadas na reprodução – gametas] pode ocorrer a disjunção incorreta dos cromossomos, fazendo com que se formem 3 cópias do cromossomo 21. Sendo esta a principal causa da Síndrome de Down, ocorrendo em 85% dos casos.

Outra causa pode ser a translocação Robertsoniana, quando acontece a ligação entre o topo do braço longo do cromossomo 21 a outro cromossomo, podendo ser hereditário.

A Síndrome também pode ser causada pelo mosaicismo [quando um indivíduo apresenta dois materiais genéticos distintos], por uma não disjunção das células na formação do zigoto.

 

O PRECONCEITO DE CADA DIA

Na última terça-feira (20), apenas um dia antes da comemoração do Dia Internacional da Síndrome de Down, o país viu às claras o preconceito exarcebado que ainda existe, graças a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que publicou uma postagem na qual questionava a capacidade da professora potiguar. A desembargadora é a mesma que publicou falsas notícias sobre a vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro.

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Imagem: Reprodução/Facebook

Em resposta à desembargadora, Débora publicou uma carta , também no Facebook:

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Imagem: Reprodução/Facebook

Sobre o acontecido, a professora contou ao Tribuna do Norte:

Quando vi o comentário da desembargadora fiquei muito chateada. Triste mesmo. Mas isso mostra que temos que combater o preconceito. Essa tem que ser a nossa prioridade. Essa tem que ser a nossa prioridade. Fazer com que a inclusão não seja só um verbo, mas ações. Ações de verdade que igualem as oportunidades, porque ainda tem muita desigualdade. Não só para pessoas com Síndrome de Down, mas para pessoas com outras deficiências, pessoas sem recursos financeiros… Ainda existe tudo isso, todo esse preconceito, racismo. Temos que lutar contra isso.

Por conta da postagem, uma representação contra a desembargadora foi protocolada no Conselho Nacional de Justiça.

 

REPÚDIO

Na última segunda-feira (19), a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, publicou uma carta de repúdio “à demonstração de preconceito manifestado por uma autoridade pública, a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em relação às pessoas com síndrome de Down”.

“A FBASD considera que a mensagem carregada de preconceito, ofende, definitivamente, os ditames impostos aos juízes por seu Código de Ética. Textos dessa natureza claramente denigrem a magistratura e, assim, devem ser rigorosamente apurados pelos órgãos competentes, tais quais a Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e o Conselho Nacional de Justiça.”

Imagem em destaque: Reprodução/R7