Guilherme Arantes, um dos mais criativos artistas do Brasil, faz desabafo sobre ‘desperdício’ cultural

"Apesar da tristeza, eu olho pra trás com o olhar da Gratidão", escreveu o autor de grandes sucessos da música brasileira

Marcelo Albuquerque
Por Marcelo Albuquerque
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Em um ambiente de tanta superficialidade, de textos curtos e mal escritos e ideias rasas, como geralmente vemos nas redes sociais, o músico Guilherme Arantes fez uma análise profunda sobre a produção e consumo das produções artísticas e, de quebra, nos brindou com mais uma obra prima em forma de post na web.

No melhor estilo textão (expressão usada pejorativamente na internet para definir textos mais longos), o artista escreveu em sua página no Facebook nesta quinta-feira (22): “a palavra do Brasil é ‘desperdício’: de recursos naturais, de idéias, de projetos, de esperanças, desperdício inacreditável de vidas. Vidas desperdiçadas. Gerações perdidas, décadas perdidas, oportunidades históricas jogadas na lixeira monumental do desperdício brasileiro”.

O cantor e multi-instrumentista também desabafa sobre a superficialidade do consumo artístico das obras produzidas no país e no mundo. “Dá até uma espécie de ‘tristeza’, uma melancolia, uma sensação de que tanta coisa passou em branco, o mundo não teve capacidade de absorver nem 1% do que foi gerado. Uma sensação de que a vida vai de trambolhão, que não dá tempo de nada mesmo”.

Em outro trecho da publicação, o autor de pérolas como “Planeta Água”, “Amanhã”, “Meu Mundo e Nada Mais”, “Êxtase” entre tantas outras músicas de sucesso, expressa certa frustação pelo fato de o público ignorar a maior parte de sua obra, assim como ocorre com outros artistas: “Comecei cedo com meus sonhos, dei sorte inúmeras vezes, e estava quase sempre pronto para montar e cavalgar o cavalo-selado dessa “sorte”. Me dizem que sou pródigo em “sucessos”, e até exageram com o mito de Midas de que é “tudo sucesso”… A estas alturas da vida, é natural que eu deite um olhar retrospectivo e me surpreenda com a quantidade de músicas trabalhosíssimas e intrincadas que eu fiz e que ninguém conhece, e muito provavelmente quase ninguém conhecerá… O que dizer do Beethoven, cuja obra monumental, para a patuléia do mundo em geral, se resume à Pour Elise dos caminhões de gás, ao “Tchan Tchan Tchan Tchan” da sua Quinta e meros trechinhos épicos da Nona…não mais. O que dizer de Michelangelo, com o seu David , Leonardo com sua Mona Lisa, Shakespeare com seu bordão “Ser ou não Ser”, Tom com sua Garota de Ipanema, Newton com a Gravidade, Disney com o Mickey, etc…”

Apesar do desabafo, ele finaliza o texto falando de gratidão: “Apesar da tristeza, eu olho pra trás com o olhar da Gratidão, e juro que vou procurar a paz em mim… senão a gente pira!

Até o momento da nossa publicação, o post teve pouca repercussão com apenas 80 curtidas e 9 compartilhamentos – o que já é esperado num ambiente cada vez mais estranho como o que vemos nas redes sociais ultimamente -, mas fizemos questão de compartilhar essa reflexão em um momento tão delicado das relações humanas. Talvez, conhecer melhor a arte feita por gênios esquecidos como Guilherme Arantes, seja um bom caminho para nos reencontrarmos como pessoas e como sociedade.

O propósito do Curta Mais é trabalhar por um feed melhor. Compartilhar a cidade, reconectar pessoas e melhorar o mundo com boas histórias e experiênciais reais. O “textão” do Guilherme mostra que não estamos sozinhos.

Vale a pena ler o post na íntegra: