Goiano com paralisia desmente medicina e se torna um promissor atleta de mountain bike

Quando coisas ruins acontecem com pessoas boas e não existe um motivo para isso

Kenji Takahashi
Por Kenji Takahashi
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É difícil encontrar um modo de começar a contar a história de Carlos Alberto Soares, o atleta goiano que não completou nem 30 anos, mas já possui uma história de vitórias de chamar atenção. Todavia, suas conquistas esportivas são apenas “a ponta do iceberg”, a parte mais visível de uma trajetória de alguém que não se entregou diante das dificuldades – enfrentando as marés de altos e baixos da vida (e das trilhas) com uma coragem que inspira.

Tormenta

Carlos nasceu em Alexânia, cidade do leste goiano com cerca de 30.000 mil habitantes e teve uma infância normal. Todavia, um acontecimento inesperado mudou para sempre sua história.
Como revela Carlos, em determinada manhã, entre seus 7 e 8 anos de idade, ele acordou e, repentinamente, não conseguia mais andar com naturalidade. A mudança foi tão rápida, que sua mãe imaginou tratar-se uma brincadeira do rapaz. Ele tentou, mas não conseguia andar como antes.
Rapidamente a família procurou ajuda médica, que constatou um princípio de paralisia da segunda vértebra de Carlos. Poderia ser ali o princípio da concretização de uma “profecia” médica: segundo eles, a partir dos 15 anos de idade, o jovem só seria capaz de se locomover utilizando uma cadeira de rodas.
O que para muitos seria um motivo para ceder diante da aparentemente imensidão do problema, para Carlos foi um aviso de que ele deveria nadar contra a onda de tristeza que a limitação trouxe para sua família. Ele não se rendeu, apesar de não saber exatamente como encontrar um porto seguro em meio ao medo.
Esta história remete à frase do livro “O menino de Ouro”, de Abigail Tarttelin, que diz “coisas ruins acontecem as vezes com pessoas boas. Não existe um motivo para isso, elas apenas acontecem”.
Quando tentava se colocar de pé, a fraqueza nas pernas se mostrava ainda mais severa – enquanto, progressivamente, suas pernas começavam a entortar. E, apesar de toda dificuldade para uma criança ainda com pouco entendimento de sua real situação, a fé que ele possuía, pareceu ter sido herdada de sua mãe, que lhe perguntou à época: “filho, você acredita em Deus?”

Aventura e descoberta

Para tentar diminuir os efeitos da paralisia, o jovem começou a fazer musculação, mas a prática não o estimulava o suficiente. Carlos ainda procurava por uma paixão que o fizesse ir fundo na luta contra sua deficiência.
Como a luz de um farol em alto mar, uma ideia de tratamento surgiu na mente de Carlos: o ciclismo. Mas como? Se era tão difícil andar, imagine então andar de bicicleta? A ideia (aparentemente) descabida tornou-se realidade e ele enfim começou a pedalar – como uma forma de fisioterapia. Aos poucos, a prática do esporte começou a fortalecer as pernas de Carlos – foi então que ele ganhou ainda mais forças para ir em frente em todos sentidos. A resistência física do goiano cresceu junto a sua determinação.

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Foto: Divulgação/Carlos Alberto Soares.

Então, sem nenhum planejamento prévio, o mountain bike se tornou a grande paixão da vida de Carlos. O que antes era somente uma forma de terapia, tornou-se o porto seguro do jovem sempre que ele desejava se distrair.
Entre trilhas cheias de adrenalina, curvas perigosas e subidas e descidas íngremes, Carlos encontrou mais, muito mais do que um hobbie. Quanto mais praticava, mais perto chegava do nível profissional.

Um peixe dentro d’água

Movido por essa paixão pela adrenalina e pela velocidade, além do prazer de estar junto de outros atletas do mountain bike, Carlos passou a treinar diariamente. Finalmente o atleta sentiu-se inserido em um propósito de vida maior e toda dificuldade que o acometeu no meio da infância, foi colocada em segundo plano.

Devido a sua determinação e coragem, Carlos já participou de mais de 40 provas em sua bicicleta, vencendo várias em sua categoria. Em algumas competições, vale ressaltar, Carlos competiu de igual para igual em categorias para não deficientes físicos.

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Foto: Divulgação/O Popular.

Carlos Soares já participou (e venceu) provas de campeonatos estaduais e nacionais, como uma competição no Rio de Janeiro. 
Para ele, mais importante do que competir, é vencer! Mas não contra os outros competidores, que fique claro. Para ele, vale mais a luta que se ganha contra os seus próprios limites do que qualquer troféu.

Futuro à vista

Ainda há muito que o atleta pode conquistar, levando muito orgulho para sua cidade natal e também inspiração para outras pessoas. No momento ele se prepara para o Mundial de Paraciclismo de Pista Rio 2018.

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Foto: Divulgação/Carlos Alberto Soares.

O mundial será disputado de 22 a 25 de março, no Velódromo do Parque Olímpico da Barra (Rio de Janeiro – RJ) e contará com a participação de Carlos Alberto Soares. Além dele, a equipe será a maior delegação do Brasil na história de um Mundial da categoria, com nove paratletas e dois pilotos da categoria tandem (que não possuem deficiência).
A história de Carlos aponta um caminho para muitas outras pessoas que precisam de uma inspiração para seguir remando contra as dificuldades da vida. Para entender a força de Carlos, basta compreender uma diferença crucial entre ele e aqueles que acabam sucumbindo: ele sempre focou na perseverança e nas possibilidades do futuro, ao invés de focar nas adversidades.

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Foto: Divulgação/Carlos Alberto Soares.

Tudo isso não explica porque coisas ruins acontecem com pessoas boas, mas mostra como pessoas reagem de modo diferente as dificuldades. Talvez este seja o segredo! Como ele mesmo afirma “já me machuquei muito, mas faz parte, todo atleta tem que passar por isso para aprender. Até para aprender a andar a gente cai!”

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Foto: Divulgação/Carlos Alberto Soares.