‘Dois Papas’: um filme sobre amizades improváveis em tempos de tanta polarização idiota

A obra digna de Óscar da Netflix traz a história dos Papas Francisco e Bento XVI e tem direção do brasileiro Fernando Meirelles

Marcelo Albuquerque
Por Marcelo Albuquerque
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Junte um argentino carismático apaixonado por futebol e música com um alemão ranzinza alheio ao mundo da bola e que mal sabe quem foi The Beatles. De um lado posições extremamente conservadoras e de outro uma visão de abertura e representatividade conectadas com a nova geração. Em comum, o amor à obra eclesiástica, no caso, o da Igreja Católica.

O pano de fundo desse enredo traz um pouco da história entre Joseph Aloisius Ratzinger, o Papa Bento XVI, que renunciou ao pontificado em 2013 e seu sucessor Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco (no final do filme você acaba amando os dois). Um pouco porque a história de “Dois Papas” (Netflix, 2019), apesar de baseada em fatos reais, traz uma visão romantizada de uma relação que pouca gente sabe como de fato aconteceu. O próprio roteirista do filme, Anthony McCarten, confirmou que ninguém sabe o que realmente aconteceu entre os dois pontífices e nos bastidores da igreja católica nesse período de transição.

Mas isso pouco importa. O que torna a história tão especial é a amizade improvável entre duas pessoas com pensamentos radicalmente diferentes e que decidem, através da relação e do diálogo, transformar muros em pontes. Um sopro de esperança em tempos de tanta polarização idiota. Uma oportunidade para inspirar dias melhores com mais paciência, respeito e tolerância pelo próximo independentemente das diferenças.

As atuações impecáveis de dois gigantes do cinema, Anthony Hopkins e Jonathan Pryce, e os diálogos cheios de ironia e de humor únicos, são dignos de Oscar. A direção de Fernando Meirelles também vale estatueta. Quem mais poderia relembrar a final da Copa do Mundo de 2014 (aquela do 7 a 1) e unir as histórias dos dois papas com tanta sensibilidade com a final histórica entre Argentina e Alemanha? A produção é uma obra prima e mostra que a Netflix quer acabar de vez com a fama de não fazer bons filmes. Depois de “Roma” e “O Irlandês”, o novo “Dois Papas” vem para engrossar a lista de grandes obras da Netflix.

Sabe aquela pessoa que você não suporta? Com uma dose de resiliência, respeito e diálogo, ela pode se tornar sua mais nova e improvável melhor amizade. Que me perdoem o spoiler, essa é a história do belíssimo “Dois Papas”.